Raras vezes se alguma, a campanha eleitoral para o Parlamento Europeu se debruça sobre temáticas que caem na alçada desse órgão. Não é, por isso, de admirar que, no caso português, mais a mais a alguns meses das legislativas, as questões da política interna tenham feito parte do cenário da campanha.

Aliás, quando algum tema europeu – como a aplicação dos fundos comunitários – foi chamado à colação, a discussão centrou-se nos méritos ou deméritos da ação governativa.

No entanto, houve um tema que escapou a esta regra. Tratou-se do populismo. Um tema de interesse mundial e, logicamente, europeu, pois o aumento do populismo representa um dado preocupante para a União Europeia, conhecida que é a posição eurocética dos partidos populistas.

De facto, embora na conjuntura atual, devido à forma como concebem o povo e a elite, já sejam identificáveis três modalidades de populismo – antissistema, identitário ou cultural e socioeconómico – quase todos os populistas são liminarmente contra o projeto da União Europeia ou, então, contra a forma como se está a desenvolver. Dizem que querem uma nova União, mas a sua política pela negativa não lhes permite avançar com um modelo alternativo.

A carga negativa que se abateu sobre o termo “populismo” levou a que alguns relatórios já evitem usar essa palavra. Talvez, uma forma de evitar ferir a suscetibilidade populista.

É o que acontece, por exemplo, com o European Council on Foreign Relations. Para este organismo a tipologia passa pelo uso da seguinte terminologia: partidos de extrema-direita, eurocéticos conservadores e partidos antissistema. Uma tipologia que, no essencial, não se afasta grandemente daquela que apresentei, desde logo porque são os partidos de extrema-direita os grandes responsáveis pelo populismo identitário ou cultural.

O European Council on Foreign Relations está ciente da ameaça populista, uma vez que reconhece que na União Europeia há nove governos que incluem partidos antieuropeus e dá conta da possibilidade de, na sequência das eleições deste fim de semana, mais de um terço dos lugares do Parlamento Europeu virem a ser ocupados por partidos interessados na implosão da atual União.

Na sua previsão, datada de janeiro de 2019, os partidos de extrema-direita poderão conquistar 132 lugares no PE, os conservadores eurocéticos 65 e os outros partidos antissistema 53.

Um cenário que, malgrado as diferenças entre os partidos populistas, não assegura estabilidade a um modelo dominado, desde as primeiras eleições, por apenas duas formações: o Grupo do Partido Popular Europeu, onde se incluem o PSD e o CDS-PP, e o Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, de que faz parte o PS.

Para que conste, o estudo inclui tanto o Bloco de Esquerda como a CDU no grupo dos partidos antissistema. Uma prova de que os quatro anos a empurrar a geringonça não foram suficientes para, a nível internacional, reverter a imagem que lhes está colada.

Internamente, a situação é outra. Continua a vigorar a versão, apadrinhada por Belém, de que o populismo fica à fronteira. Por isso, o BE e a CDU até se permitem alertar para os perigos decorrentes do populismo.