A liderança de Luís Montenegro no PPD-PSD vai-se afirmando e consolidando, pelo menos internamente, e a presença de Pedro Passos Coelho no Pontal foi só mais um exemplo – relevante – de que os tempos de desagregação e de hostilidades dentro do PSD estão a ser, de facto, atenuados.

Compete, assim, ao líder do PSD fazer oposição incisiva e dura. Ora, os últimos deslizes e trapalhadas no seio do Governo, numa conjuntura externa adversa, ajudam ao posicionamento de Montenegro. E também se espera, não só o PSD mas também o país, que ao lado das críticas por vezes pontuais mas certeiras, envolvendo” casos e casinhos” e mesmo situações mais de fundo, o PSD comece a delinear propostas concretas de acção nos domínios-chave da organização política e socioeconómica, em ordem a afirmar-se como alternativa ao poder  atual, o que só se concretizará num quadro não radicalizado e não populista.

O discurso de Montenegro no encerramento da Universidade de Verão do PSD acabou por ter o foco na antecipação da sua iniciativa de um programa de emergência social sabendo-se – ele próprio o salientou – que o Governo se preparava para “responder” com um pacote de ajudas sociais, porventura em dose reforçada, acrescendo uma proposta de reforma do Sistema Nacional de Saúde (SNS), naturalmente discutível… O risco era evidente, mas nem por isso se pode tirar mérito ao anúncio feito por Montenegro no Pontal.

Contudo, o objectivo do PSD de regressar ao poder/Governo requer, também, que olhe com atenção para as movimentações à sua direita, ou seja, da Iniciativa Liberal e do Chega. Certo que Montenegro no discurso de posse afirmou que quer reconstruir o PPD-PSD longe de valores racistas e xenófobos (alusão ao Chega), bem como de valores ultra-liberais (numa alusão à Iniciativa Liberal). Mas não menos certo é que o PSD terá que tentar penetrar no eleitorado do centro do PS e, ao mesmo tempo, procurar inviabilizar o avanço dos partidos à sua direita.

Importante é, pois, percebermos desde já os passos que ao longo do tempo o PSD dará, no sentido de contemplar a sua estratégia de alianças mesmo que mais ou menos pontuais, porque a ideia de substituir uma atual maioria absoluta do PS por outra do PSD parece ser inverosímil, até pelas características sociodemográficas do eleitorado.

A minha convicção é que se Montenegro demonstrar com mais solidez um corte com o Chega, conseguirá criar no seu discurso condições mais propícias a uma possível aliança com a Iniciativa liberal (o substituto  do  CDS), a quem deixará de chamar ultra-liberais para os apelidar apenas de liberais. É verdade que existe um silêncio no partido a este propósito, e que o discurso do líder no encerramento da Universidade de Verão poderia ter contemplado este domínio.

Compreende-se, pois trata-se do início de uma longa caminhada na oposição. Mas não seria de ter em devida conta o discurso do consagrado comentador Marques Mendes (cujo alinhamento com Marcelo Rebelo de Sousa aparenta ser evidente) ao  elogiar, há semanas atrás no seu habitual programa televisivo na SIC, as rentrées políticas do PSD e da Iniciativa Liberal (IL), sugerindo mesmo que estaria encontrado o tal bloco alternativo ao PS?

Contudo, o caminho para a gestação política deste bloco mais social liberal tem que começar a ser assumido desde já, com uma consequência imediata de afastamento de qualquer possibilidade de apoio do Chega (direita radical), até porque a IL sempre afirmou incompatibilidade de compromissos com o partido de André Ventura. Por isso, os próximos passos, para além da persistência de críticas construtivas à acção do Governo, devem contemplar o aparecimento de propostas concretas alternativas abordando as questões-chave da organização política e socioeconómica, embora já algo “moldadas” por um certo compromisso de entendimento entre PSD e IL. Só assim se criarão expectativas para um voto maioritário num eventual bloco alternativo.

O PSD sozinho, embora melhorando naturalmente face ao desgaste deste longo Governo, pode não ser suficiente!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.