Numa altura em que jornais internacionais como o “The New York Times” destacam o efeito prejudicial na economia global do coronavírus, agora rebatizado Covid 19 – que só no setor do transporte aéreo se estima fará perder às companhias de aviação  cerca de 5 mil milhões em receitas neste primeiro trimestre –, e sendo o vírus apenas o mais recente entre outros potenciais riscos externos com impactos negativos, os Portugueses manifestam um comportamento económico singular e preocupante.

Esta semana, foi divulgado o mais recente Eurobarómetro pela Comissão Europeia e ficámos a saber que mais de um terço dos portugueses acredita que a situação da sua economia nacional vai melhorar no próximo ano. O valor mais elevado entre todos os 28 Estados-membros. E, como se não bastasse de ‘pensamento positivo’, o otimismo dos nossos cidadãos estende-se ao conjunto da economia europeia, com 31% dos inquiridos confiantes numa melhoria da situação económica nos próximos meses, uma proporção substancialmente superior à da média europeia, com 19%, e só ultrapassada pelos romenos, com 33%.

Sucede que este otimismo coincide com dois fatores que devem suscitar, pelo contrário, elevada preocupação. Por um lado, os dados divulgados pelo Banco de Portugal sobre o recurso em força ao crédito pessoal: em 2019, as famílias endividaram-se num total de 4,6 mil milhões de euros em novos contratos de créditos ao consumo, que são, como é sabido, aqueles que têm taxas de juro mais altas associadas. Segundo os dados, se somarmos a este impressionante número o valor total solicitado ao crédito para a compra de automóveis, que foi de 2,99 mil milhões, atingimos os 7,6 mil milhões de euros, o valor mais elevado desde que o Banco de Portugal começou a disponibilizar estes dados, em 2013.

O segundo fator que deve, se não suscitar preocupação pelo menos travar a vaga de otimismo, é que essa subida de pedidos de crédito pessoal surge numa altura em que a poupança pelas famílias se prevê venha a bater no fundo e atingir uns insignificantes 2,3% no último trimestre deste ano, embora possa recuperar depois  um pouco para os 3,7% já perto do final de 2021. São estas as previsões dos investigadores Tiago Domingues e Margarida Castro Rego, autores de um estudo que projetou a evolução do consumo das famílias no curto prazo, para determinar o remanescente em termos de rendimento.

Que podemos então concluir de tudo isto? Infelizmente, parece evidente concluir que as lições da crise financeira – que levou a uma subida temporária das poupanças – não foram aprendidas e não motivaram uma alteração estrutural no comportamento dos portugueses. Voltámos a gastar demais e a poupar de menos. Mas, apesar disso, acreditamos mais do que os outros num futuro sem percalços. Infelizmente, a História – e em particular a mais recente – contraria essa crença, em nós tão atávica, no pote mirífico ao fundo do arco-íris.

 

No dia em que escrevo, decorrerá um debate sobre a eutanásia promovido pelo CDS-PP, reunindo representantes do partido e especialistas na área da saúde. É mais um passo dado para apoiar a reflexão pela sociedade civil sobre este tema, sendo já sabido que o CDS apoia a realização de um referendo promovido pelos cidadãos, tal como aliás a Igreja Católica. Estejamos pelo lado certo: a vida.