Os jovens estão superconfiantes nas suas capacidades quando navegam na internet, perdendo mais de 100 milhões de dólares, para hackers, só no ano de 2021. Esta é uma das conclusões de um estudo que teve como base informações recolhidas pelo Internet Crime Complaint Center do FBI e a Federal Trade Commission para burlas online.

Apesar de serem considerados como nativos (ou órfãos, pela forma como tiveram de aprender consigo mesmo a lidar com este novo contexto) digitais e serem a parte da população percecionada como a mais “tech-savvy” (mais conhecedora de tecnologia), a faixa etária com menos de 20 anos foi aquela que viu a percentagem de crescimento de ataques subir (uns estrondosos 1125,96%) quando comparado com 2017, o maior aumento de todas as faixas etárias no mesmo período.

Apesar de parte da justificação ainda se prender com a pandemia, que fez aumentar drasticamente as burlas online, a questão é que os jovens atualmente encontram uma desvantagem única. A amplitude que têm em chegar a todo o lado está a torná-los demasiado expostos e a superconfiança que percecionam ter faz com que não tomem as básicas medidas de proteção no contexto digital, tornando-os mais vulneráveis a burlas. Esta geração cresceu a ensinar os pais e os avós a utilizar as ferramentas digitais, criando uma falsa sensação de confiança no que toca a tudo o que se relaciona com o espaço digital.

Para quem cresceu a usar apps como o Facebook, Instagram ou o TikTok, é perfeitamente normal iniciar uma conversa com alguém que (des)conhece. E este é um dos principais fatores que dão vantagem a hackers: ganhar a confiança para depois os enganar ou fazer extorsão. Segundo alguns especialistas, a maioria destes jovens tem demasiada confiança na tecnologia que usam e estão mais aptos a responder a mensagens de estranhos.

Este estudo, apesar de ter sido realizado no Estados Unidos, pode ser entendido como representativo das crenças, atitudes e comportamentos online dos jovens do mundo ocidental. É urgente que o tema da cibersegurança entre nas unidades curriculares. É urgente que a escola, como promotora de competências para vida, tenha um papel fulcral na dinamização de mudança comportamental nesta área. Mas é essencial que a família tenha a consciência dos riscos a que se expõe sempre que um filho/a navega na internet.

Tal como uma família investe na segurança física dos seus filhos/as, educando-os/as a olhar para os dois lados antes de atravessar a rua e atravessar de preferência na passadeira, ou a não falar e dar informações a estranhos, é capital que a família tenha o mesmo cuidado no que toca à navegação online.

Moldar as crenças em cibersegurança é o primeiro passo para termos atitudes mais ajustadas à realidade em que vivemos, que têm o potencial de se transformarem em comportamentos mais (ciber)seguros.

O autor assina este artigo na qualidade de responsável pela relação entre a psicologia e a tecnologia na Ordem dos Psicólogos Portugueses.