Tate McRae, o nome não lhe diz provavelmente nada, mas os seus filhos ou netos sabem quem é. A jovem canadiana de 21 anos canta e esteve anteontem no Meo Arena. A qualidade musical não é o assunto aqui. Tate McRae está a fazer o que os líderes partidários deixaram de fazer – ela olha para a frente, investe no presente para (talvez) colher no futuro, apesar de comprometer o lucro que podia levar já hoje para casa. Os bilhetes de Lisboa ficam a algumas centenas de esgotar, mas a receita generosa serviu para cobrir quase só as despesas de produção.

Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos deveriam ter ido ao concerto, especialmente o líder do PS – quase irreconhecível pela angústia que se lhe colou à pele – e que o leva a repetir que o adversário “não tem idoneidade”. Nunca a banalização de uma acusação tão violenta foi recebida com tão claro encolher de ombros pelos eleitores. PNS faz que não entende e segue em frente de lança-chamas na mão num caminho sem sustentação possível.

Para o primeiro-ministro candidato, a história é diferente: como está em campanha eleitoral desde que venceu as eleições de 2024, anda por aí um pouco deslumbrado. Faz duetos musicais em S. Bento, numa exploração trágica dos meios do Estado e da simbologia da casa oficial do líder do governo, e chuta para o pinhal qualquer assunto sensível, como a segurança social.

A esta incapacidade de os candidatos falarem sobre assuntos vitais, não apenas micro-medidas como a redução do IVA, junta-se um ambiente persecutório expresso em campanhas sujas de que ninguém está a salvo. E, no entanto, há uma semana a energia faltou durante dez horas. Havia aqui assunto para aprofundar e discutir, mas em 48 horas deu-se novo apagão, deste vez político, e voltamos ao disco popularucho e à agressão pessoal. Fazer política é muito difícil, mas assim não serve. Alguém tem de acabar com este desconchavo.