“Os consumidores tendem a fazer o que a maioria pensa que está certo”. Quem o afirmou foi Richard H. Thaler, economista galardoado com o prémio Nobel da Economia em 2017, especialista em psicologia de tomada de decisões e considerado o pai da economia comportamental. O pensamento desenvolvido por esta celebridade não se afasta de um outro já antigo que defende que a economia se baseia nas expetativas dos agentes económicos. E isto quer dizer que, se a maioria dos players considera que as coisas vão melhorar, a probabilidade de melhorarem é mais elevada.
O inverso tende a ser ainda mais certo, uma vez que as expetativas de uma degradação da atividade económica levam à antecipação de comportamentos sobre consumo (ou investimento) tendencialmente defensivos, para além da fatalidade de comportamentos condicionados pela real degradação das condições do mercado. Como diria um grande amigo meu, em momentos de retração do rendimento disponível, “os pobres não têm o que gastar e os mais afortunados adoram poupar”. E tudo se processa numa espiral de expetativas, que alimentam um ciclo vicioso até que haja uma sinalização coletiva que o reverta para virtuoso.
O Instituto Nacional de Estatística publica regularmente os resultados dos Inquéritos Qualitativos de Conjuntura às Empresas e aos Consumidores que procuram espelhar as referidas expetativas dos agentes económicos. Os dados mais recentes apontam para uma queda histórica do indicador de confiança dos consumidores no mês de abril. O indicador, que se mantinha numa média mensal negativa entre 7 e 9, disparou para um resultado negativo de 41,6 em abril, tendo recuperado para 32,1 em maio e 25,7 em junho.
O mesmo é dizer que os consumidores, responsáveis pela geração de 2/3 do Produto Interno Bruto, passaram de uma expetativa neutra em fevereiro para variar a sua expetativa entre o péssimo e o muito mau. E, se considerarmos as componentes do indicador de confiança, os resultados agudizam-se quanto às expetativas da realização de compras importantes nos próximos 12 meses, o que revela a incapacidade latente de uma qualquer recuperação do consumo interno até ao segundo semestre do próximo ano.
Obviamente que, tratando-se de uma análise ao momento, o sentimento não pode ser lido de forma fatalista e a sua evolução dependerá do sentimento sobre a evolução da pandemia, como variável exógena que pesará determinantemente na confiança dos consumidores.
Já restam poucas armas para combater as expetativas negativas. E, das poucas que nos restam, a mais eficaz será a preservação da verdade sobre os indicadores da crise sanitária, a sua leitura racional e a rápida atuação sobre focos de infeção que possam pôr em causa alguma da confiança que se foi mantendo nos momentos mais duros. Evitar uma segunda onda pandémica afigura-se crucial. Sem fazer grandes contas, sairá muito mais barato ao erário público combater focos localizados com todos os meios que tiver à sua disposição.
Isto, para que a esperança de recuperação menos lenta se mantenha viva. Parafraseando Thaler, “quando se deteta um problema comportamental, é possível encontrar uma solução comportamental para ele.”