Na entrevista à Procuradora-Geral da República (PGR) há uma passagem que diz sobre Lucília Gago. Quando Vítor Gonçalves lhe pergunta sobre o peso do silêncio, a senhora respondeu: “Sempre considerei que a discrição é melhor do que o espalhafato. Não tenho, nem nunca tive, o culto da imagem…”.

É espantoso como consegue dizer uma coisa que significa o contrário. Quando o jornalista a questiona acerca do silêncio da PGR tendo o mundo a desmoronar-se à volta, prefere falar de si. Senhora Procuradora, o país não deseja saber qual a marca do seu perfume, se usa uma ou duas almofadas, se é frugal a comer ou gosta de um bom cozido na tasca de sempre, se tem o culto da personalidade ou se é discreta, se é do espalhafato, da pantomina, do karaoke ou do cinema mudo. O que não é indiferente é o cargo que ocupa, um lugar que a obriga a prestar esclarecimentos em casos ensurdecedores.

Também se pode dar o caso de a senhora não achar suficientemente importante o que aconteceu. Afinal, foi apenas um governo de maioria absoluta que caiu em virtude de uma investigação que envolveu o primeiro-ministro que, afinal, está longe sequer de ser arguido. Pouco importante, como ainda menos importante são as fugas de informação ou os processos cirurgicamente lançados em vésperas ou mesmo durante eleições.

Dá ideia de que aquilo que levou Lucília Gago a sair do seu castelo de princesa diretamente para o estúdio da RTP foi a necessidade de falar da ministra da Justiça, Rita Júdice. Estou convencido de que se a ministra não tivesse falado da necessidade de pôr ordem numa PGR que precisa de uma nova liderança, ela não teria dado a cara.

O culto do silêncio, Sra. PGR, pode ser espalhafatoso. E o culto da imagem e da personalidade pode ser feito a partir da invisibilidade, uma coisa não tem a ver com a outra. Acredito que o sabe bem melhor do que eu. Basta vê-la quando a vimos. Pela maneira como anda, pela maneira como veste, pela maneira como olha, pela maneira como fala com os que a abordam ou as palavras que escolhe quando diz. Acredito que tem qualidades, que teve um excelente percurso profissional, mas o seu problema foi precisamente o de ser espalhafatosa e ter o culto da personalidade.