Peseiro foi bem mais do que se podia esperar de Peseiro. Exatamente quatro meses depois de ter sido apresentado como treinador do Sporting, e com algumas exibições titubeantes e um par de resultados mal conseguidos, Frederico Varandas parece demitir à primeira oportunidade um treinador que apurou a equipa para a próxima eliminatória da Taça de Portugal, tem todas as condições para garantir o apuramento para os 1/16º de final da Liga Europa, depende de si próprio na Taça da Liga e está a dois pontos da liderança na Liga NOS.

E se compararmos concretamente com as duas épocas anteriores, nunca o Sporting esteve mais perto da liderança da liga NOS à 8ª jornada (2 pontos em 18/19 e 17/18, e 5 pontos em 16/17), sendo que foi com Peseiro que teve o calendário mais difícil (já jogou fora com Braga e Benfica, e nas duas épocas anteriores recebeu apenas o Porto). E tudo isto com Bas Dost lesionado…

Daí que se possa inferir que esta foi uma decisão injustificada que coloca em causa o verdadeiro e honesto apoio de Frederico Varandas a José Peseiro. Nunca a expressão “este é o meu treinador” pareceu ter um cariz mais populista e eleitoralista do que a proferida pelo presidente do Sporting aquando da sua campanha. Lembre-se o leitor que o único candidato que não o fez e apresentou Claudio Ranieri como treinador, veio a retroceder mais tarde nessa decisão tendo inclusive retirado a sua candidatura.

A demissão de José Peseiro parece uma tentativa imatura e precoce de conquistar tempo e espaço de manobra junto da opinião pública sportinguista, procurando esconder os reais problemas estruturais da Sporting SAD:

  1. Instabilidade na(s) liderança(s). Nos últimos cinco meses, o Sporting teve três presidentes, prepara-se para contratar o terceiro treinador, e ficou sem o seu capitão e sub-capitão.
  2. Ausência de cultura sporting. Dos vinte e dois jogadores mais utilizados este ano na liga NOS, apenas quatro são portugueses e dois são oriundos da formação. Comparativamente aos mais recentes jogadores exportados, nenhum tem sequer cem jogos na competição pelo Sporting (Rui Patrício #327, Adrien #169, William #143, e Nani #82).
  3. Ausência de planeamento. Os grandes clubes preparam a construção dos seus planteis com três anos de antecedência. O Sporting começou a preparação da presente temporada já depois do seu início.
  4. Falta de talento. Se compararmos os onze jogadores mais utilizados esta época com os da época passada, o Sporting perdeu Rui Patricio, Piccini, William Carvalho, Gelson e Fábio Coentrão, e contratou Gudelj, Raphinha e Nani.
  5. Pressão em excesso. Quando a experiência entregue ao adepto não é (no mínimo) igual à expetativa criada, a sua satisfação é negativa (manifestada através de lenços branços). Sousa Cintra começou a temporada afirmando que o Sporting iria ser campeão, negligenciando o atual momento do clube e o facto de não ter conquistado qualquer campeonato nos últimos 16 anos (e apenas dois nos últimos 36 anos).