À exceção dos apoiantes indefetíveis de Donald Trump, poucos apreciam a nova vaga protecionista dos EUA, mesmo que em parte esteja a reagir a práticas semelhantes por parte de outros blocos. A OCDE reviu em baixa o crescimento económico global deste ano e do próximo ano e, em particular, as previsões para a economia dos EUA. Vários bancos estado-unidenses já tinham publicado projeções no mesmo sentido. A OCDE citou a guerra comercial em curso e a incerteza quanto às políticas económica e externa como justificações. As bolsas têm refletido esse pessimismo e, no mercado monetário, adivinha-se a necessidade de a Fed cortar taxas para reanimar a economia.
A imposição de tarifas alfandegárias é sedutora. Além das receitas que proporciona, aparenta salvaguardar empregos e promover a autossuficiência das nações. No entanto, nem esses objetivos ficam garantidos porque o preço a pagar é elevado.
Os consumidores são prejudicados pelas políticas protecionistas, dada a possibilidade de preços mais altos e a limitação da variedade e qualidade de produtos disponíveis no mercado, com efeitos mais danosos nas famílias mais vulneráveis. O efeito não se restringe apenas aos bens diretamente taxados, dado que as cadeias produtivas estão interconectadas. A médio prazo, um dos piores efeitos é a redução da competitividade e da eficiência. A proteção face à concorrência internacional resulta em escassez relativa artificial, beneficiando poucos e poderosos produtores e prejudicando o resto da população. Sem o estímulo da concorrência, as empresas têm menos incentivos para inovar e melhorar.
Numa perspetiva mais ampla, o protecionismo afeta negativamente o crescimento económico e o bem-estar globais. A globalização e a integração comercial têm sido dos principais motores do desenvolvimento mundial e as barreiras artificiais incentivam uma alocação ineficiente de recursos.
Um aspeto particularmente preocupante é a divisão “Nós Contra Eles”. O protecionismo fomenta divisões sociais e políticas entre as nações. Guerras comerciais e protecionismo transformam parceiros em inimigos e promovem o ressentimento. Além disso, andam frequentemente anda de mãos dadas com o populismo político. O protecionismo também pode ser cultural, humano e social, em que o medo do confronto com outras culturas se sobrepõe à compreensão e aceitação do “outro”.
Uma das consequências mais graves pode ser aumentar tensões geopolíticas que, em casos extremos, contribuam para conflitos armados. Alguns historiadores encontram uma ligação entre o protecionismo e a Primeira Guerra Mundial, período marcado por disputas imperialistas entre diversas potências que lutavam apenas em prol de seus próprios interesses económicos.