A geringonça lá vai a caminho da meta, e isso será sempre um marco na política nacional, mas obviamente vai desconjuntando-se de forma gradual à medida que se aproximam as eleições. É uma construção a perder peças todos os dias na estrada porque o BE, politicamente, e o PCP, sindicalmente, montaram, a António Costa e ao PS, o cerco que estava escrito nas estrelas. Agora é torturar até outubro.

À direita ataca-se também, sobretudo pela economia e pelo crescimento. É “poucochinho”. Diz Cavaco Silva (na entrevista à RR ) e concordaria o primeiro-ministro se continuasse a ver os resultados positivos com a perspicácia e o cinismo de outrora.

Perdida a ilusão de qualquer maioria absoluta, no PS trata-se já, apenas, de ter mais votos nas legislativas do que qualquer outro partido. Para melhor, é seguro, não dará. E depois logo se vê o caminho. Poderá ser uma outra geringonça 2.0, provavelmente apenas com o BE – se for suficiente em lugares no Parlamento e se ficarem pontas para atar os destroços – ou a rendição à estratégia de Rui Rio. Haverá tempo para pensar nisso.

O que conta agora é a realidade social. Depois dos enfermeiros e dos estivadores, chegaram os camionistas das matérias perigosas. Duplamente. Primeiro, porque Portugal está à beira do colapso energético nos transportes. Segundo, porque apesar do governo ter reagido bem, com a requisição civil e o envolvimento dos militares, se percebeu que nesta questão, como sempre, não havia um plano. Portugal raramente prevê, quase sempre desenrasca. E isso, ao contrário do que pensam os simples, não é qualidade que se deva exaltar, é um grave defeito de que deveríamos envergonhar-nos.

Mas o pior fantasma de Costa, como já havia sido de Sócrates e Passos Coelho, chama-se Mário Nogueira, acompanhado pelos restantes líderes dos sindicatos de professores. Juntos conseguiram isolar o PS no Parlamento. São nove anos, quatro meses e dois dias de carreiras congeladas, de direitos adquiridos, inalienáveis, que vão diretos ao Orçamento do Estado e criam dificuldade às finanças públicas e aos consequentes compromissos europeus.

O Governo está em grande dificuldade porque todos os outros partidos, com exceção do PAN até ao momento em que escrevo, isolaram o PS em São Bento e reconheceram as reivindicações dos professores. Mesmo os dois anos, nove meses e 18 dias já reconhecidos são para vigorar de imediato. Custa 240 milhões, que terão de vir de outras rubricas. O tempo total custará muito mais (quase 700 milhões, diz o Governo) e os sindicatos pretendem reavê-lo, como na Madeira, até 2025. A negociação será apenas sobre timings.

Acabou a ‘união de facto’ na política portuguesa à esquerda! Só faltam acertar os detalhes do divórcio. As eleições impõem-se, os votos serão primos de todas estas polémicas e o otimismo de António Costa já teve melhores dias.