Em 2011 o Partido Socialista faliu o país. Narrativas à parte é um facto contra o qual não há argumentos, nem sequer verdades alternativas. E houve alertas, avisos para que o Partido Socialista não falisse Portugal, deixasse de alimentar com dívida a dívida que nos sufocava.
Veio a troika, nos termos e condições negociados pelo PS, e que PSD e CDS implementaram. A partir do momento em que tiveram a sorte de perder as eleições em 2011, os socialistas esqueceram o que fizeram, ignoraram o que acordaram com os credores e puseram-se à parte de qualquer solução para o endividamento que implicasse cortes na despesa pública. O PS sabia na altura, como sabe agora, que os principais visados desses cortes orçamentais constituíam a sua base eleitoral. A austeridade foi a salvação do Estado, mas seria o fim do PS se o Partido Socialista pactuasse com ela. E isso, os socialistas não podiam aceitar.
E não aceitaram comportando-se, entre 2011 e 2015, como bem sabemos. Entretanto, na Europa, outros partidos socialistas, que não tiveram o discernimento do português, pagaram caro a sua honradez. O PASOK desapareceu da Grécia, o PSOE está de rastos, o PSF como sabemos, o Labour entregue a um radical, na Holanda foi feito em pedaços e na Alemanha, o SPD – responsável pelas reformas que salvaram o Estado social alemão – está há mais de dez anos arredado do poder.
Mas em Portugal, não. Em Portugal, o PS é de outra lavra. Tem outra cultura. É muito mais esperto. E esperto como é salvou o socialismo português revertendo as medidas mais impopulares do anterior governo, como os cortes dos salários e das pensões, mas esqueceu todas as que, sendo indispensáveis, o PSD nunca poderia apontar o dedo ao PS.
Assim, Costa não reverteu o brutal aumento de impostos de Gaspar. Como é que o PSD pode criticá-lo de não o fazer se foi o PSD que subiu os impostos? Costa cortou no investimento público; mas como é que o PSD pode criticá-lo se o PSD defendeu menos investimento público para que haja mais investimento privado? Costa reverteu as medidas que desfavoreciam o seu eleitorado e, para agradar a Bruxelas e conservar o financiamento do Estado pelo BCE, manteve aquelas relativamente às quais o PSD nada pode dizer.
Assim se salvou o PS português, mesmo que à custa do país. E se o PS tem agora um futuro luminoso à sua frente, o mesmo não pode dizer Portugal. Preso neste colete de forças de uma elite que nos governa e que salvou a pele, o país fica-se pela mediocridade de que nunca se libertou. Para que tal acontecesse seria preciso que o PSD apresentasse um programa reformador e liberal, o que não se espera. O PS levou a melhor em Portugal, o que não significa que seja o melhor para todos.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.