As informações sobre os impactos macroeconómicos do PRR português foi a tábua de salvação da oposição de direita para encontrar o caminho da crítica a um plano amplamente elogiado pela Comissão Europeia. Ao longo de meses de preparação para a recuperação do país, a direita nunca ousou contribuir. Sempre optou por surfar as críticas, evitando propor caminhos alternativos. Não faltaram ocasiões.

O debate foi amplo, duradouro e ocorreu de várias formas. Contudo, a oposição, e o PSD em particular, preferiu sempre amplificar tudo o que ouvia que permitisse abalar o caminho persistente para que Portugal tivesse um bom plano, o mais consensual possível e com os ingredientes certos para ultrapassar a crise. Tudo servia: um dia era falta de apoio às empresas, outro era pouco investimento público, em certas ocasiões era um suposto défice de debate, noutras alturas era um eventual pouco empenho no combate às alterações climáticas, a determinado momento eram supostas reformas troikanas escondidas.

Tudo isto foi rebatido e, no fim do dia, a Comissão Europeia (CE) deu nota máxima a 10 dos 11 critérios que utilizou para avaliar os planos. Os apoios às empresas estão na proporção certa (30% do programa) e são superiores a alguns países como Espanha ou Itália; o investimento público deverá acelerar e está contemplado; as reformas são muitas, mais de 20, e estão todas escritas e disponíveis no PRR.

Perante estes factos, nem uma palavra sobre os méritos para o país foram ouvidas ou escritas pela oposição. Não eram elogios ao governo que se exigiam, mas sobretudo mobilização em torno de objectivos comuns. Infelizmente, o PSD fez o que se esperava, encenou uma nova discussão, baseada em modelos macroeconómicos que dependem dos pressupostos. Para o PSD o impacto no PIB do PRR é insuficiente. Falemos, então, nesta nova teatralização do maior partido da oposição.

Comecemos pelo novo país estrela do PSD. Por favor não se riam: a Grécia! É óbvio que escarafuncharam este mundo e o outro para encontrar indicadores que justificassem a nova paixão. Alguns até falaram em impactos de 19% em três anos! Mas vamos ao essencial, sem delírios e baseado no que existe disponível.

Os países apresentaram previsões macroeconómicas e a CE trabalhou-as e refez a sua perspectiva. Contudo, num e noutro caso, as previsões estão afectadas pelos pressupostos introduzidos. Os resultados dos modelos são consequência “do que se mete lá dentro “. Quem não se lembra das previsões do PSD/CDS que foi necessário fazer mais de 10 orçamentos para quatro anos. Portanto, previsões há muitas.

Mesmo assim não se compreende bem o alarido da direita. A CE prevê que o impacto no PIB do PRR grego seja de 1,9%;2,2%;1,8% e 1,2% respectivamente a dois anos; cinco anos; dez anos e vinte anos. Ora, o mesmo exercício para Portugal é de 1;9%; 2,2%; 1,5% e 0,9% tendo em conta os mesmos prazos! Apenas ligeiras diferenças a 10 e a 20 anos. Todos os restantes países que já entregaram PRR têm previsões piores.

Espanha tem a seguinte série : 2,3%; 1,9%; 1,3% e 0,8%! A poderosíssima Alemanha tem: 0,6%; 0,7%; 0,4% e 0,2%. Já a Eslováquia que faz parte do grupo de países descobertos pela direita como extraordinários, apresenta as seguintes previsões: 1,8%; 2%; 1,1% e 0,6%. Tudo isto vale o que vale mas mostra sobretudo que nem a crítica inventada pela direita tem aderência com os factos. Lamentável!

Além disso, a euforia com o nosso parceiro europeu Grécia torna-se mais esdrúxula quando se detecta que o apoio às empresas baseia-se na utilização total dos empréstimos disponíveis que serão distribuídos como linhas de crédito pela banca comercial?!

Não foi o PSD que tanto insistiu nos apoios a fundo perdido em detrimento das linhas de crédito? Além disso, Portugal já passou por essa fase de emergência, tendo disponibilizado mais de nove mil milhões de linhas de crédito. Acresce que não me parece avisado entregar a distribuição de meios públicos à banca comercial que tem objectivos distintos das políticas públicas. Finalmente, onde fica o sentido de responsabilidade, e coerência já agora, do PSD que proclama a utilização total dos empréstimos mesmo sabendo que afectarão as contas públicas?