Para variar certamente da maior parte dos comentadores esta semana, não irei falar-vos de assuntos relacionados com o Orçamento do Estado. Escolhi antes como tema a inevitável diminuição do Quantitative Easing (QE), pelo seu potencial impacto a nível global, tanto nos mercados como nas empresas.

Esta semana, Tommy Stubbington chamou a atenção no “Financial Times” para as diferenças que já podemos verificar nos comportamentos da Reserva Federal norte-americana, do Banco de Inglaterra e mesmo do Banco Central Europeu. Embora não deixe de mencionar que, no caso da zona euro, o QE deverá continuar na paisagem financeira por mais tempo, destaca igualmente que os governos europeus deverão ficar também mais ansiosos no que respeita ao controlo dos seus défices orçamentais.

No que toca a ansiedades, no mesmo jornal Bryce Elder destaca que as empresas devem planear cuidadosamente e não entrar em pânico face às mudanças no que toca às questões de títulos de dívida. Em complemento, uma análise muito interessante por parte dos responsáveis pela gestora de fundos internacional Robeco lança também luzes sobre o mesmo assunto.

Com efeito, segundo Martin Van Vliet: “Os bancos centrais mundiais liderados pelos quatro pesos pesados; a Reserva Federal dos EUA, o Banco Central Europeu, o Banco de Inglaterra e o Banco do Japão, têm feito o possível para apoiar as economias atingidas pela Covid-19. Cortaram as taxas de juro para perto de zero ou mantiveram-nas mesmo abaixo, relançaram programas de flexibilização quantitativa para apoiar uma grande flexibilização fiscal e criaram programas de empréstimos consideráveis para bancos e até mesmo empresas”.

Como resultado, salienta o analista da Robeco, “os balanços patrimoniais de muitos bancos centrais inflaram a níveis históricos. Mas, à medida que os processos de vacinação iluminaram o panorama da saúde pública, a atenção dos mercados financeiros voltou-se agora para o processo de retirada de algumas dessas medidas de estímulo”.

Os especialistas da Robeco estão, no entanto, otimistas. A sua previsão em termos de cenário principal é a de que a maioria dos bancos centrais terá como objetivo desfazer muitas das políticas que decretaram durante a pandemia, mas terão dificuldade em fazê-lo por completo. Supondo que os temores de uma mudança de regime inflacionário diminuem (e já aqui escrevi que tal não é um dado adquirido), acreditam que a redução do QE terá lugar já no próximo ano (exceto para o Banco do Japão e BCE), com um aumento de taxas na maioria dos bancos centrais a começar em 2023.

Para nós, cidadãos europeus, um aumento das taxas de juro parece um cenário ainda muito remoto. Mas o tempo passa depressa e, no horizonte que se aproxima, ou teremos juros mais altos ou inflação. Para as empresas, mas também para as famílias, este tema será determinante para o nosso futuro.

 

O exemplo de Gisela João é de esperança para os músicos portugueses e todos aqueles que os acompanham nos seus espetáculos e digressões. O sucesso da fadista na última digressão pela Europa, antecedendo os quatro concertos que servem de preparação para os espetáculos nos coliseus de Lisboa e Porto, dá um toque de esperança e de retoma num sector particularmente fragilizado pela crise pandémica.