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O que determina o preço do petróleo? Geopolítica já supera lei da oferta e da procura

Porque oscila tanto o preço do petróleo? Pergunta foi respondida na 2.ª Conferência e Exposição sobre Conteúdo Local na Indústria do Petróleo e Gás em África, promovida pela APPO, em Luanda.
26 Novembro 2018, 18h23

O secretário-geral da Organização dos Produtores de Petróleo Africanos (APPO) defendeu hoje, em Luanda, que a lei da oferta e da procura já foi ultrapassada por questões geoestratégicas na definição do preço do petróleo nos mercados internacionais.

Em declarações à agência Lusa, no final da sessão de abertura da 2.ª Conferência e Exposição sobre Conteúdo Local na Indústria do Petróleo e Gás em África, promovida pela APPO, o economista nigeriano Mahaman Laouan Gaya, argumentou ser essa a razão principal pelas oscilações do preço do crude nos mercados internacionais.

“Agora já não se depende dos fundamentos do mercado. A teoria da procura e da oferta, que tem determinado o preço do petróleo foi ultrapassada pela geopolítica e é isso que tem levado à subida e à descida dos preços do petróleo. Temos de saber lidar com isso. Torna-se difícil para nós, agora, saber se amanhã o preço sobre ou desce”, referiu.

Para o economista, nascido em Niamey, para combater a adversidade os países produtores de petróleo, em todo o mundo, têm de saber “gerir bem” as suas economias e de as diversificar, para que não dependam das receitas do petróleo.

“Há países em que o orçamento [do Estado] depende em 90% das receitas do petróleo e, quando o preço desce, enfim, sofrem. E quando sobe, é bom. Mas temos de diversificar as economias para que não sofram com as oscilações do crude”, sugeriu.

Mahaman Gaya lembrou que houve uma altura em que o preço do barril de petróleo desceu abruptamente para os 26 dólares por barril, realçando que, pouco depois, disparou significativamente, tendo atingido os 148 dólares, e “não se deveu unicamente à teoria da oferta e da procura”.

“O mais importante não é os preços subirem e descerem. O mais importante é a gestão desses recursos. Se existir uma boa governação do setor de petróleo isso é o mais importante para os nossos países. Por isso, temos de estar preparados. Todas as matérias-primas têm os preços a subir e a descer. Temos de estar preparados para todas as eventualidades e de manter as nossas economias saudáveis para que possam sobreviver às descidas”, sustentou.

A APPO, lembrou, é uma organização intergovernamental criada em 1998 por países africanos produtores de petróleo e tem em curso reformas para melhorar a sua ação, tendo em conta que o mundo, e África em particular, tem “três grandes desafios” pela frente.

“O primeiro é criar talento, o segundo o de combater a fome e o terceiro é o da energia. África tem de produzir energia e o nosso objetivo é o setor do petróleo. O desenvolvimento das comunidades locais é importante. No caso de Angola, o país é o segundo maior produtor de petróleo em África, atrás da Nigéria. Já foi o primeiro. Vai trocando de lugar com a Nigéria”, realçou Mahaman Gaya.

O secretário-geral da APPO salientou, por isso, que Angola está na “linha da frente” na questão dos “Conteúdos Locais”, uma vez que está a desenvolver um trabalho de retoma da atividade industrial ligada ao setor do petróleo e do gás, travado pela crise provocada pela queda dos preços do crude e pela falta de diversificação económica.

“Angola pode continuar a organizar este tipo de conferências porque o tema dos ‘Conteúdos Locais’ é um dos pilares mais importantes. As receitas, os lucros, são menos importantes que os ‘Conteúdos Locais'”, defendeu.

Segundo Mahaman Gaya, a segunda conferência da APPO – a primeira também decorreu na capital angolana em 2016 – deverá permitir “definir uma linha orientadora” sobre os “Conteúdos Locais em África”, algo que possa depois ser “alargada a mais países africanos”.

“Queremos que, em 2030, os ‘Conteúdos Locais em África’ atinjam os 30% nos investimentos no setor petrolífero. Angola está a desempenhar um papel chave na nossa organização e no setor do gás e petróleo no desenvolvimento de África.

Os trabalhos da segunda conferência centram-se na abordagem de aspetos geopolíticos estratégicos, técnicos, jurídicos e financeiros inerentes à promoção do “Conteúdo Local” na indústria de petróleo e gás em África, em particular nos 18 países que integram a APPO.

Além de Angola, a APPO integra a África do Sul, Argélia, Benim, Camarões, Chade, Costa do Marfim, Egito, Gabão, Gana, Guiné Equatorial, Líbia, Mauritânia, Níger, Nigéria, República do Congo, República Democrática do Congo e Sudão.

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