De acordo com uma grande maioria de cientistas, setembro e outubro de 2023 atingiram máximos de calor, fazendo crer ser possível que a temperatura mundial possa aumentar 2ºC (face a 1800/1850) até 2030 – vinte anos mais cedo que o objetivo do Acordo de Paris.

Se esta situação se comprovar, então a necessidade de o mundo baixar as emissões de Gases com Efeitos de Estufa (GEE) torna-se ainda mais forte, agudizando-se também a importância dos países serem capazes de realizar investimentos para ajudar as empresas e a sociedade a adaptarem-se aos impactes que o aumento da temperatura terá na economia.

Assim, e apesar de vivermos tempos conturbados a nível internacional e nacional, a necessidade de acautelar os impactes das alterações climáticas nas empresas e nas economias, não perde importância. Se analisarmos a evolução da regulação europeia relacionada com a forma como as empresas incorporam os temas ambientais e sociais na sua gestão, constatamos que esta tem vindo a ser cada vez mais exigente.

Na realidade essa exigência é essencial para que as empresas possam gerir de melhor forma o potencial impacte que os riscos climáticos podem trazer ao seu negócio; bem como para induzir as empresas a baixarem o mais rapidamente possível o seu impacte ambiental e climático.

Neste sentido, a União Europeia (UE) já definiu os critérios científicos que asseguram que uma atividade económica é verde, ou seja, que está alinhada com a transição para uma economia neutra em carbono – essa definição é dada na regulação da Taxonomia Verde da UE. Esses critérios existem para algumas dezenas de atividades, não abrangendo a totalidade das atividades que caracterizam as economias de hoje.

No entanto, se todas as empresas cumprissem com esses critérios teríamos uma economia em bom caminho para podermos diminuir rapidamente as emissões de GEE.

Atingir esses critérios implicará investimentos em tecnologias mais modernas, adaptações profundas em alguns negócios, opções de investimento diferentes das usuais, pelo que é plausível existir algum tempo entre o “hoje” e a “situação ideal” onde as empresas têm as melhores tecnologias, melhores materiais e melhores práticas de gestão “disponíveis”.

Entre o “hoje” e a “situação ideal”, faz sentido as empresas poderem transmitir aos investidores, clientes e financiadores que estão a fazer esforços e investimentos concretos para alinhar o seu negócio com os critérios definidos na Taxonomia Verde.

Assim, a UE também publicou uma “Recomendação para facilitar o financiamento à transição para uma economia sustentável” que poderá ajudar, quer as PME quer as Grandes Empresas, a conseguirem classificar-se como empresas em transição, apesar de ainda não serem empresas “verdes”.

É esta transição que toda a regulação europeia pretende acelerar, e como tal é “exatamente isto” que as empresas devem fazer desde já. Ou seja, para que uma empresa possa ser considerada “em transição para uma empresa verde”, ela deverá ter, entre outros:

  1. Uma Estratégia de Sustentabilidade e um Plano de transição credível ao nível da empresa ou da atividade;
  2. A Estratégia e Plano devem ter:
    1. O compromisso da empresa em atingir a descarbonização até 2050 (idealmente mais cedo)
    2. Os objetivos para atingir a descarbonização devem estar em linha com a Science Based Target Initiative
    3. Para as grandes empresas, e de forma proporcional para as PME, o compromisso de incluir no relatório de gestão de 2016 a seção sobre sustentabilidade para cumprir com Diretiva de Reporte de Sustentabilidade onde se reporta o modelo da empresa para atingir a descarbonização, a dupla materialidade, a TCFD, o alinhamento com a Taxonomia Verde e de Transição bem como os indicadores necessários aos fundos de investimento tal como é identificada na SFDR (Sustainable finance disclosure regulation)
    4. Uma forte comunicação no site da empresa para que todos os stakeholders compreendam como é que a empresa está a gerir o risco climático e a lidar com os temas da sustentabilidade
  3. O compromisso para atingir a descarbonização em 2050 deve ter:
    1. Um compromisso de médio-prazo, 5 a 10 anos; e um compromisso a longo prazo
    2. Uma secção dedicada à Mitigação Climática e uma secção dedicada à Adaptação Climática
    3. Uma secção dedicada à forma como a empresa vai utilizar os mercados voluntários de carbono para atingir a descarbonização

Neste contexto, se os investimentos previstos ambicionam a alcançar o alinhamento com a taxonomia em 5 (excecionalmente 10) anos, são reconhecidos como despesas de capital que estão totalmente alinhadas com a Taxonomia Verde da UE. Uma vez que pelo menos 85% das empresas europeias possivelmente não estão alinhadas com a Taxonomia Verde da UE, então esta recomendação, sendo voluntária, pode dar uma oportunidade aos Bancos de também publicarem a % de empréstimos que têm a empresas em transição, e não apenas às empresas verdes.

Uma conjugação do Green Asset Ratio com o Transition Asset Ratio poderá vir a impactar a fórmula final para os requisitos de capital que os bancos terão de cumprir face aos riscos climáticos que detêm.