Na democracia portuguesa não há ninguém como ele. Na política, na economia, nas finanças, no mundo empresarial ou do Estado há quem ganhe mais do que perde, há quem tenha as contas equilibradas entre ganhos e perdas e até há gente que se especializou em derrotas tão poéticas que quase parecem vitórias. Ora, Paulo Macedo não se enquadra em nenhum grupo ou equação, o homem ganha sempre.
Ganhou quando tornou a máquina dos impostos muito mais eficaz. Ganhou quando sobreviveu com enorme habilidade à sua passagem pelo Ministério da Saúde. Ganhou quando assumiu a gestão da Caixa Geral de Depósitos conseguindo resultados inimagináveis até para os militantes do otimismo. Ganhou na maneira como se posicionou acima dos interesses partidários – socialistas adotaram-no em nome dos interesses pátrios e sociais-democratas não colocam em causa a sua aparente frieza ideológica.
Como diria Frank Underwood, inesquecível personagem de House of Cards, uma pessoa tem que escolher uma de duas coisas: ou o poder político ou o dinheiro, as duas ao mesmo tempo nunca dão resultado. É óbvio que Macedo escolheu a massa, mas será só isso ou na sua cortina de fumo existem nuances capazes de nos surpreender?
Não sei nada de substancial, apenas que ganha como se os dados estivessem viciados. É o arquiteto das grandes empreitadas, o fazedor de dinheiro, o genial burocrata, gélido e metódico, mas é também o que moveu mundos e fundos para mostrar ao país os quadros do seu pai, comunista e pintor, amigo íntimo de Almada Negreiros e Artur Boal, um pai que lhe morreu aos 52 anos com um coração estilhaçado dos excessos de sonhos, de tabaco, de álcool e feijoadas com amigos e camaradas.
Não sei quem é Paulo Macedo, mas gostava. De o conhecer para lá do óbvio, para lá do que ele gosta que se conheça, dos resultados, das conquistas, da sua genialidade contabilística e financeira. Quem é o que nunca perde? Que rio passa no seu íntimo, o que aconselha aos seus filhos gémeos? O que deseja quando deseja? Que objetivos persegue agora que é rico de dinheiro e vitórias? Teme ser derrotado e de cair em desgraça? O que gostaria de fazer quando isto não lhe bastar? Pintar um quadro? Dar a volta ao mundo como um nababo, deixar-se ficar no sofá a comer uvas sem grainha ou virar a mesa do avesso e ser outra coisa qualquer?