Tal como a pandemia, também a guerra é, na essência, um fenómeno não económico mas com brutais consequências económicas, muito difíceis de prever.

A evolução “natural” da economia é já por si difícil de antecipar, embora que tenha que se reconhecer que o desempenho económico depende também muito das intervenções públicas, elas próprias por vezes surpreendentes e repletas de implicações pouco claras. Quando a isso se somam efeitos externos de extrema raridade e complexidade, como a pandemia e a guerra, tudo se torna ainda mais incerto.

É assim que nos preparamos para entrar em 2023, com uma guerra que está a durar mais tempo do que até os mais “realistas” previam. As derrotas militares da Rússia bem como as sanções do Ocidente têm-se traduzido em respostas russas mais duras e algumas bem perigosas como a ameaça nuclear.

O conflito parece que ainda não está maduro para se poderem iniciar conversações de paz, mas esperemos que algo se consiga ao longo do próximo ano.

O ano inicia-se com um enfraquecimento generalizado da economia mundial, em especial nos países avançados, com os primeiros sinais de moderação da inflação, mas que não têm coibido os principais bancos centrais de continuar a subir as suas taxas de juro de referência, para a controlarem.

No caso dos EUA, é provável que aquelas taxas superem os 5% e no caso do Banco Central Europeu (BCE), estima-se que subam acima dos 3%. Há duas questões mais importantes do que saber o nível exacto em que atingirão o máximo: haverá descidas pouco depois? Quando se iniciarão essas diminuições?

Dado que subiram muito mais, as taxas norte-americanas têm maior margem para regressarem a níveis mais próximo do nível neutral, que a Reserva Federal considera ser os 2,5%. O mercado espera que no final do próximo ano já possa haver descidas, ainda que moderadas.

O BCE tem sido muito menos claro sobre o que considera ser uma taxa neutral, talvez próximo dos 2%, sendo provável que demore mais tempo a diminuir as suas taxas directoras, até porque começou o processo mais tarde. É assim, menos provável que haja descidas de taxas ainda em 2023.

Quanto a Portugal, estando menos afastado da zona de conflito, com menos relações comerciais com os países em guerra, estaria menos vulnerável, não fossem dois problemas estruturais.

Temos uma das menores auto-suficiências energéticas da União Europeia, pelo que sofremos mais com a subida do preço da energia, e temos uma das maiores proporções de créditos a taxa variável da zona euro, o que nos torna especialmente sensíveis a subidas das taxas de juro.

Para além disso, já não podemos esperar grande ajuda do turismo, porque este já concluiu o seu processo de recuperação da crise pandémica, mais cedo do que se antecipava.

Num contexto internacional em deterioração, que poderá passar por uma recessão na zona euro, Portugal poderá estar entre os mais afectados. O melhor que se consegue antever é que a queda do PIB poderá ser moderada e não muito longa.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.