Numa conversa recente com um administrador não executivo, falávamos sobre o impacto da Inteligência Artificial (IA) na Corporate Governance e na função de Administração. Ele estava fascinado com a ideia de que algoritmos poderiam otimizar decisões, até que lhe perguntei: “Já pensou nos principais atributos das decisões que toma?”
Foi nesse ponto que a nossa conversa se concentrou no verdadeiro papel da IA: uma ferramenta poderosa, que já está a transformar o contexto interno e externo das organizações, mas onde os líderes terão, provavelmente, de ser mais humanos do que nunca.
A maior parte das decisões que um administrador toma são de “portefólio” – decisões estratégicas que moldam o futuro da organização. Estas decisões envolvem um nível elevado de risco, ambiguidade, variabilidade e colaboração, ou seja, decisões que, pela sua natureza, requerem uma inteligência humana que transcende dados e algoritmos.
A IA é excelente a analisar grandes quantidades de informação e a sugerir soluções ótimas para problemas regulares e previsíveis. Decisões de portefólio exigem uma avaliação dos riscos que, por vezes, são incalculáveis, e um julgamento crítico em situações de elevada incerteza.
São decisões que envolvem uma compreensão holística da organização, do mercado e dos stakeholders e de fatores qualitativos que a máquina não consegue interpretar, como a intuição, a experiência e a compreensão dos valores e da cultura organizacional.
Ao longo da minha experiência como advisor, tenho visto como a combinação entre o digital e a inteligência humana pode criar um impacto positivo. Os melhores líderes são aqueles que utilizam a IA para apoiar, mas não para substituir, o processo de tomada de decisão, porque, no fim do dia, é também o impacto ético da IA e a responsabilidade social que estão em causa.
Apesar do impacto da IA, a Corporate Governance ainda é o que era. As decisões mais importantes continuam a ser aquelas que exigem um equilíbrio entre o suporte tecnológico e o julgamento humano. A IA pode ajudar a navegar por um mar de dados, mas continuará a ser o líder que determina o rumo a seguir.
Assim, o que distingue a boa Corporate Governance é a capacidade dos líderes de combinarem experiência, intuição e julgamento crítico para tomarem decisões complexas em cenários de incerteza – e isso, nenhuma máquina (ainda?) pode fazer por nós.