As previsões do próprio FMI, com todos os seus economistas especializados nisto, têm um erro médio de 2,8 pontos percentuais. Como lembra Esther Duflo, Prémio Nobel da Economia, previsões aleatórias, em torno de uma média de 4%, dariam a mesma taxa de erro. É uma das razões para a má reputação dos economistas.

A última edição do “Veracity Index”, do instituto de sondagens IPSOS, sobre confiança em diferentes profissões no Reino Unido, mostra que apenas 53% das pessoas tem confiança nos economistas. Longe dos mais de 90% que confiam em médicas e enfermeiras, mas – felizmente – igualmente distante dos 13% que acreditam em publicitários.

Se é assim em tempos normais, como vai ser no meio da maior crise de sempre, causada por um vírus que não para de nos surpreender? Menos de um mês depois de iluminar o túnel com a vacina de Margareth Keenan, o Reino Unido foi reconfinado esta semana, devido à nova estirpe do vírus. O que se seguirá na União Europeia? Não sabemos.

O que é certo é que, depois de uma contração entre 8 e 10% do PIB português em 2020, é quase impossível piorar. Portanto, 2021 vai ser um ano de crescimento económico. Mas quanto? A previsão mais recente é a do Banco de Portugal, de meados de dezembro, e diz que o PIB vai crescer 3,9%. Daqui a duas semanas teremos as novas previsões do FMI, mas as de outubro apontam para 6,5%. A Comissão Europeia, em novembro, previa 5,5%, alinhada com os 5,4% do cenário macroeconómico do Ministério das Finanças na proposta de Orçamento do Estado.

O Conselho de Finanças Públicas tinha previsto, em setembro, um crescimento de 4,8%. A OCDE é a mais pessimista: previu em dezembro um crescimento de apenas 1,7%. Há pelo menos um aspeto em que as previsões convergem: o crescimento de 2021 não compensará a contração de 2020. E outro em que todas, exceto a da OCDE, concordam: o crescimento a partir de 2022 será mais lento do que o de 2021. Demoraremos vários anos a voltar a onde estávamos há um ano.

As previsões do desemprego estão mais alinhadas: variam entre 7,7% e 9,5%, sendo a OCDE, de novo, mais pessimista. Acontece que o desemprego conta uma história muito parcial do mercado de trabalho e 2020 mostrou-nos isso de forma eloquente. Logo no início da pandemia, o desemprego diminuiu, dado que as pessoas não estavam ativamente à procura de emprego no período de confinamento e muitas tinham o vínculo laboral seguro pelo lay-off simplificado. Só que, olhando de perto, no segundo trimestre, as horas trabalhadas baixaram quase um quarto, relativamente ao primeiro.

Sob qualquer perspetiva razoável, o cenário não é famoso. Estas previsões podem estar enganadas – foi por aí que comecei. Infelizmente, podem ser otimistas. Vale a pena recordar que, em julho, 35% das empresas tinham aderido ao lay-off simplificado, 25% às moratórias, 24% a programas de crédito bonificado ou garantido especialmente desenhados para a crise pandémica e 30% tinha suspendido o pagamento de obrigações fiscais e contribuições sociais.

Uma parte substancial da economia está a boiar com coletes salva-vidas. À medida que estas medidas forem sendo descontinuadas e com o prolongar da crise, muitas destas empresas não resistirão. Se, até lá, a vacina nos permitir recuperar uma certa normalidade, pode ser que o trambolhão seja menos dramático. Oxalá.