O PS não descarrilou agora com a hecatombe eleitoral de 18 de maio. Já tinha perdido o rumo lá atrás, com a geringonça, o que foi sendo disfarçado pelo programa comum exclusivamente assente na reversão das medidas do governo de Pedro Passos Coelho e, depois, pela pragmática navegação de cabotagem de António Costa até à decisão barrosista de rumar ao Conselho Europeu.

Hoje, acantonado em segmentos muito específicos do eleitorado, fechado na bolha dos próximos e com pouca adesão à realidade, sem rasgo aspiracional, tática ou estratégia, o PS sucumbiu. Perder 900 mil votos (sem contar com a emigração) em duas eleições, num ano, atestam-no. E não se trata de uma questão de liderança, mas de estrutura, que Pedo Nuno Santos foi eleito quase por aclamação.

O mais fraco resultado em quase 40 anos, desde Vítor Constâncio, em 1987, não é, no entanto, o fim da linha. Pode ser pior. Na Assembleia da República, as bancadas à esquerda do PS ocupam mais de dois terços dos lugares, o que quer dizer que os socialistas deixaram de ser imprescindíveis para formar maiorias qualificadas, mas podem ser necessários até para maiorias simples, a não ser que prefiram que o segundo partido do sistema seja realmente o Chega, como o número de mandatos deverá apontar. A porta para a irrelevância está aberta, mas é preciso ainda que decidam entrar e instalar-se. Aqui, sim, joga-se a existência.

É preciso refundar, ou, se calhar, regressar às origens. O PS precisa de olhar para dentro e redescobrir-se, com tempo, percebendo que quem o trouxe até aqui dificilmente o leva a outro lugar. Talvez a corrida desenfreada pela liderança não seja o melhor início de discussão.