A opinião dos europeus sobre os benefícios de uma Europa integrada, está a mudar. Os resultados das eleições são apenas um espelho e reflexo das decisões políticas e opções económicas, internas e externas, tomadas nas últimas décadas e que não estão a trazer o benefício que os europeus esperavam.

A Alemanha, até há alguns anos um exemplo de solidez financeira, tem demonstrado sucessivamente a incapacidade para detetar erros na gestão de empresas, que afetam toda a economia. O mais conhecido, por ter infringido elevadas perdas aos investidores, foi o caso da Wirecard, onde nem auditores, supervisores conseguiram acautelar a boa governação da empresa.

Mas existem outros aos dias de hoje que podem comprometer a economia alemã. Por exemplo, a Volkswagen que emprega mais de 650 mil pessoas em todo o mundo que está a braços com uma procura decrescente na Europa, ainda abaixo das vendas pre-pandemia.

Mas para além destas dificuldades, a opacidade da estrutura de detenção do grupo que não facilita a percepção de valor do grupo ou até elimina a capacidade de intervenção por parte dos investidores. Através de várias holdings que se confundem, pois, têm o mesmo nome (Porsche) a família Porsche tem o controlo do grupo.

Seria de esperar que a rentabilidade e a sustentabilidade da empresa a longo prazo fossem os principais desígnios, mas tendo o Estado alemão uma participação na empresa, parece que o objetivo é outro – a estabilidade social. É aqui surgem os conflitos de interesse.

É que não podemos ter empresas cotadas que devem defender os interesses de todos os investidores, a rentabilidade, e ao mesmo tempo impedir a reestruturação das empresas. Existe a necessidade de redimensionar a empresa e adaptá-la para um novo ciclo, mas o encerramento de fábricas vai ser polémico pois irá gerar mais descontentamento numa altura que que a extrema-direita ganha poder.

Mas este é um exemplo de como a Europa se está a entrincheirar e a afastar o capital e a afastar-se de uma democracia. Muitas empresas europeias anseiam em mudar as suas sedes para os EUA e ter investidores americanos pois estes são mais diretos, interventivos e eficientes. Se a Alemanha e a zona euro não reagirem, dentro de uns anos teremos de salvar a indústria automóvel da mesma forma que fomos obrigados a salvar o sistema financeiro.

A evolução do preço das ações das construtoras automóveis europeias demonstra que a confiança é cada vez menor na capacidade das administrações das empresas conseguirem dar a volta às empresas sem a intervenção dos Estados europeus.

A ausência da adaptação a uma nova realidade, com apoio à adaptação dos trabalhadores para ganharem outras aptidões, originará uma Europa pouco competitiva. As intervenções dos Estados e o mundo burocrático criado, foi a forma encontrada pelos políticos para evitarem a verdadeira união europeia.

Estes muros, que refletem a inaptidão e o medo dos políticos perderem o seu poder, vai colocar em perigo a democracia.