Encerrado o processo presidencial, o combate à pandemia regressa ao centro das atenções. Enquanto alguns perderão tempo a sarar feridas, outros partem já para o próximo e determinante desafio que este ano lhes reserva, a realização das eleições autárquicas no próximo outono, pouco antes da discussão do próximo Orçamento do Estado.

Estas eleições surgem num momento delicado. Para o PS, urge manter a presidência das câmaras que detém, principalmente a de Lisboa, sabendo que os resultados não deixarão de afetar a sua popularidade. A oposição, chamada a mostrar serviço além da manutenção das câmaras conquistadas há quatro anos, tem de apresentar candidaturas convincentes e ambiciosas.

O PCP apostará em reconquistar ao PS o que perdeu para este, o CDS terá de manter pelo menos o que tem. No caso do PSD, o desafio que tem pela frente é tremendo.

Depois de ter liderado durante anos o poder local, promovendo desenvolvimento sem perder identidade, obteve um dos piores resultados da sua história em 2017. A começar por Lisboa, onde António Costa construiu o seu castelo para conquistar o partido e tomar de assalto o governo, onde reside quem sonha repetir-lhe os passos. Este é um desafio à parte, onde não é difícil crescer, mas em que o candidato será determinante para a construção da imagem que o catapulte para outro patamar no panorama nacional.

No Porto, onde o PSD parece conformado, e nos grandes centros populacionais, os resultados finais serão a prova de fogo sobre a vitalidade do partido para retomar uma posição charneira e desafiante do PS, e um objetivo que não pode ser menorizado, constituindo um teste à atual liderança. Pelas escolhas feitas se verá a sua capacidade de recrutamento e mobilização para os desafios próximos e futuros, quer para liderar o espaço do centro-direita, quer para desalojar o Governo.

Neste combate não entrará a Iniciativa Liberal, que não se mostra nem sensível, nem capaz de mobilizar no país. Fenómeno tipicamente urbano e elitista, os liberais continuarão a apresentar ideias e conceitos que não se coadunam com a intervenção no espaço local.

Já o Chega representa um perigo para o PSD. Não será em termos de presidências de câmara, mas na aposta em listas em número significativo de municípios ou freguesias, que lhe permitirão disputar votos e lugares, nomeadamente para os órgãos deliberativos.

O Chega pode ser o melhor aliado dos socialistas. Ao contrário do Bloco de Esquerda, que nunca se mostrou verdadeiramente um partido com vocação autárquica, o Chega ameaça o resultado final. E atendendo à fragilidade da sua base programática e ao desejo inconfessável de chegar ao poder a todo o custo, estará aberto a todos os que não consigam obter resguardo para as suas ambições pessoais dentro dos partidos tradicionais.

As próximas eleições autárquicas não devem ser desvalorizadas. Delas pode resultar a consolidação de uns e a perda de influência de outros. Será nas escolhas de candidatos que muito se joga, mas também na capacidade política de mostrar liderança e vontade de alcançar o poder instalado.