Já lá vai o tempo em que o os natais se enchiam de publicidade sem fim a todo um mundo de produtos. Já lá vai o tempo em que o consumismo natalício era desenfreado, em que os intervalos na televisão não tinham fim e as lojas se enchiam com tudo e mais alguma coisa, desde que fosse vendável.

Esta continua a ser a grande época de vendas do ano, mas muito mudou. Permanece a loucura das compras de última hora e a afluência aos centros comerciais, mas o Natal é hoje mais sustentável, mais ecológico e, sobretudo, uma quadra com muito amor para dar. O que conta hoje nos presentes é a emoção mais do que o valor, pelo menos para uma nova maioria.

Basta vermos a publicidade de hoje e compará-la com a de há 10, 15 ou 20 anos. As marcas que apostam em publicidade exclusiva para esta época do ano passam hoje uma mensagem de emoção, do ‘ser’, e menos do ‘ter’. O que não deixa de ser, no mínimo, controverso, tendo em conta que são marcas, negócios, que têm por objetivo o lucro, sobretudo numa época como esta. Ou talvez não.

É que o ‘ser’ cria aquela ligação emocional que todos querem e dura o ano inteiro. Basta uma rápida vista de olhos pelas redes sociais e lá está aquele anúncio daquela marca que nos faz ficar de lágrima no olho. Numa versão que, por vezes, quase merece o salto para a curta metragem, mas que continua a ganhar gostos e partilhas sem fim.

A explicação é lógica: se já somos seres com forte queda para o lado emocional durante o resto do ano, nesta época damos uma atenção especial a estes temas e talvez não tenhamos mais tempo, mas temos um tempo especial para os memorizar e um coração mais aberto para abraçar aquela marca que nunca nos disse muito e onde nunca comprámos nada, mas que nos tocou no coração com aquela bonita mensagem.

Não foi por acaso que a estreia da Uber em televisão no mercado português se fez nesta altura do ano e com uma publicidade que puxa o sentimento ao máximo. Nem é por acaso que os três grandes anunciantes das telecomunicações – MEO, Vodafone e NOS – regressam com anúncios longos e melodramáticos, sempre com músicas escolhidas a dedo e que ficam na cabeça para passarem a mesma mensagem: no Natal somos todos amigos, somos todos felizes. No Natal vende-se amor e nós compramos de carteira e coração abertos.