Somos um povo de gente queixosa. Temos uma tendência natural para a crítica, o queixume e a maledicência.
Geralmente esta prática é inconsequente e no momento de agir para tentar melhorar aquilo de que nos queixamos, nada acontece. E, infelizmente, não temos a prática oposta de dizer bem e elogiar quando as pessoas, os serviços e o sistema funcionam bem.
Pois eu, sem lamechices e sem demagogia, vou elogiar.
Temos um Serviço Nacional de Saúde (SNS) com inúmeros problemas, mas cheio de profissionais de primeira qualidade. Somos geralmente desorganizados, mas conseguimos montar um processo de vacinação muito eficaz.
A minha experiência, e a de todos os que à minha volta já foram vacinados, é muitíssimo positiva. Sobretudo no que diz respeito aos profissionais que nos estão a atender.
São, na sua grande maioria (na minha experiência na sua totalidade), simpáticos, pacientes, cuidadosos e claramente competentes. Não perdem a calma, falam de forma tranquila e segura, respondem às perguntas e dúvidas de forma delicada, mesmo quando vêm na forma de reclamação.
No meu caso em particular, se na primeira toma, apesar deste ambiente cuidadoso e profissional, senti uma certa desorganização no processo, esse sentimento desapareceu na segunda toma: melhoraram o sistema, organizaram-se e garantiram uma fluidez e facilidade que, apesar de algum tempo de espera, não permitiu que ninguém se sentisse incomodado.
Trabalham horas longuíssimas, devem aguentar o insuportável, e continuam com boa cara e a prestar um serviço de primeira qualidade.
Mas este não é o único exemplo dos profissionais fantásticos que temos no nosso SNS.
Uma sobrinha minha que vive fora, veio passar uns dias a minha casa. Ficou doente e num estado de fraqueza muito preocupante. Falei com a minha médica do centro de saúde que, por haver suspeitas de Covid, me aconselhou o centro ao qual me devia dirigir.
Fomos fabulosamente atendidas. Mais uma vez, a calma, o cuidado, a segurança com que nos atenderam e a trataram foram inexcedíveis. A minha médica ligou-me sistematicamente a confirmar se estava tudo bem, e só deixou de o fazer quando efetivamente a minha sobrinha ficou bem. Tudo isto de forma gratuita e, mais importante, tudo isto de forma igual para todos.
Exprimo muitas vezes o meu receio de que nunca nos consigamos aproximar da Europa nos níveis de desenvolvimento, salários, condições de vida; que nunca consigamos ter uma economia robusta, com elevada produtividade e um sistema produtivo inovador e de elevado valor acrescentado; que a distância para os nossos pares não pare de crescer e que esta crise ainda nos distancie mais.
Mas no nosso SNS – apesar das debilidades de um serviço subfinanciado, com problemas de infraestruturas e equipamentos, com carências de recursos humanos – estamos à frente e não atrás.
O que se conseguiu fazer com a task force da vacinação é um exemplo a seguir. Mas a boa resposta do SNS é muito mais do que isso. Fica aqui o meu agradecimento profundo e sincero, mesclado de orgulho, por aquilo (e sobretudo por aqueles) que temos de melhor!