Este ano, a principal preocupação do CEO de qualquer empresa será alcançar os objetivos estabelecidos: crescer e melhorar a rentabilidade, executar corretamente os planos e inovar pensando no presente e no futuro. O mesmo de sempre, certo? Não desta vez.
Encontramo-nos num contexto nunca antes visto, e não me refiro apenas à pandemia. A complexidade que enfrentamos é criada por dilemas e paradoxos que não conhecíamos e que são difíceis de definir, descrever ou formular; são multidimensionais e, portanto, dificultam muito a definição de prioridades. Para além disso, causam incerteza à medida que as transformações se aceleram.
Para mim, a causa de tanta complexidade é a coexistência de quatro grandes tendências ou forças globais que interagem entre si, sendo causa ou consequência umas das outras. Uma equação diabólica que precisamos de compreender, porque a compreensão alivia e tranquiliza. E porque vamos precisar de enormes doses de serenidade face ao desafio que enfrentamos.
Estas quatro forças globais que estão a abalar o nosso mundo são: a globalização, a revolução digital, a expansão do conhecimento e a emergência climática. Cada uma delas está relacionada com as outras, por vezes como causa e outras como consequência.
A globalização altera a geopolítica e a interdependência entre países, provocando restrições fronteiriças e, portanto, influenciando decisivamente as exportações ou o posicionamento internacional das empresas.
O segundo elemento é o mais importante: a revolução digital. O conhecimento gerado pela exploração dos dados mudou e continuará a mudar drasticamente o mundo. Aqui não há desculpas: quem pensa que isto é só uma moda está fora do mercado.
A revolução digital mudou tudo: quebrou os limites tradicionais dos setores e deu origem a novos modelos de negócio, passando-se de pagar para comprar a pagar para usar. Isto é fácil de dizer, mas os modelos de negócio “por utilização” são infinitos, estamos apenas no início. Esta revolução também veio perturbar a variável tempo, uma vez que dispomos de mais tecnologias do que somos capazes de utilizar, aparecendo então a urgência como nova variável chave. E que afeta a incerteza.
O terceiro elemento é a expansão do conhecimento. A Internet, como plataforma aberta de conhecimento, altera os fluxos de informação habituais – de cima para baixo, do CEO para o resto –, o que muda a forma como inovamos e gerimos o talento.
Para acrescentar mais complexidade à gestão, aparecem também os ecossistemas, que são comunidades dinâmicas de agentes diversos que criam valor através de uma relação diferente da de cliente-fornecedor – e nos quais as empresas se apoiam para inovar. Este processo modifica o talento pois, dispondo de toda a informação, aparecem pessoas capazes de aportar valor (crescimento e rentabilidade) desde o primeiro dia, graças às suas capacidades tecnológicas, comerciais, estratégicas ou de gestão de pessoas. Um tsunami.
O quarto elemento é a emergência climática e a necessidade de reduzir as emissões de CO2, que tem um impacto direto nas empresas por várias razões. Primeiro, no que diz respeito aos valores ou objetivos: muitas empresas e CEO fazem desta questão uma prioridade não negociável, é preciso ser ativista. Em segundo lugar, porque os regulamentos nacionais e comunitários tornarão obrigatório alcançar a neutralidade de carbono o mais rapidamente possível, e também porque os fundos de investimento decidiram dar prioridade a investir em empresas sustentáveis. Tudo isto sem mencionar a enorme transformação dentro do setor da eletricidade.
Assim sendo, para enfrentar a complexidade e a incerteza precisamos de as compreender. Precisamos de resolver a equação destas quatro forças globais, ou macrotendências, e analisar como nos afeta.
A má noticia é que uma mudança cosmética não chega, não funciona para fazer as mesmas coisas de forma diferente; exige-se transformação real e transformar significa incorporar diferentes capacidades. A boa notícia é que sabemos quais devem ser.
Chamo-lhes “os cinco temas na agenda de cada CEO”.
Em primeiro lugar, a liderança; não a tradicional, mas sim uma nova: ser boa pessoa, inspiradora, com propósito e com foco no desenvolvimento das suas equipas.
Em segundo lugar, o conhecimento tecnológico; não em profundidade, mas sabendo o que são dados, como adquiri-los, como movê-los e como extrair valor deles. Sabendo quais são os enablers tecnológicos mais relevantes e as infraestruturas necessárias, e como utilizar aplicações ou software para extrair o máximo valor máximo desses dados.
Em terceiro lugar, como abordar os clientes: narrativa, novas propostas de valor e acesso aos níveis mais altos de tomada de decisão num mundo em transformação.
Em quarto lugar, a Transição Ecológica, convertendo a sustentabilidade na essência estratégica da sua empresa.
E, por último, a nova gestão do talento e do ecossistema, que é a chave para a inovação neste mundo complexo.
Será este, então, mais um ano desafiante? Quase nada…