A cada ação do governo israelense no Médio Oriente, o apoio inicialmente oferecido pelo Sul Global diante do massacre de 7 de outubro de 2023 vem diluindo substancialmente. Para o Sul Global, a abordagem do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu transformou Israel em uma força ocupante, sem metas claras, o que provoca resistência generalizada. A lição da história ibérica é relevante: após séculos de ocupação, os povos finalmente retomam sua agência. Da mesma forma, a resistência persistente produzirá novos terroristas, reforçando os desafios de Israel, em vez de diminuí-los.

Netanyahu vem adotando uma estratégia equivocada para mudar o equilíbrio de poder no Médio Oriente. Ações como o assassinato de Hassan Nasrallah, do Hezbollah, e a morte de líderes do Hamas em Gaza foram tentativas de “cortar a cabeça da serpente,” numa ação semelhante àquela adotada pelos Estados Unidos. A história mostra que esses esforços muitas vezes resultam apenas em um corte no “rabo da lagartixa.”

O rabo regenerado da lagartixa pode ser menos funcional, mas retorna. Assim é com a remoção de líderes, o que raramente desmantela grupos terroristas. Suas estruturas descentralizadas permitem rápida substituição, como exemplificado pela Al-Qaeda, que ainda atua em algumas regiões. Novos líderes surgirão, alimentados pela sensação de injustiça e martírio.

Netanyahu – como diz a sabedoria chinesa – parece agir como quem “pesca em águas turvas” (浑水摸鱼), aproveitando-se do caos e da incerteza para eliminar figuras importantes de grupos adversários, acreditando que isso trará segurança a Israel. No entanto, o verdadeiro desafio não é eliminar líderes, mas abordar as condições que favorecem o extremismo. “As armas são um elemento importante, mas não o decisivo,” escreveu Confúcio. Para romper ciclos de violência, é preciso enfrentar as causas profundas, não apenas os sintomas, além da enorme falta de perspectiva da população palestina quanto ao seu futuro.

O fato é que as ações até agora implementadas não restauraram a segurança de Israel e poucos reféns foram resgatados. Além disso, acusações de genocídio chegam à Corte Internacional de Justiça, o que é um embaraço à memória daqueles que foram sacrificados no Holocausto.

A posição de Israel como uma nação moderna e inovadora está em risco. Uma mudança estratégica é essencial: líderes terroristas não são “cabeças de serpentes”, mas “rabos de lagartixa.” Seu poder cresce diretamente em resposta aos erros cometidos contra eles. É preciso conquistar os corações e mentes para criar um futuro para a região.