1 Primeiro José Sócrates. Depois Ricardo Salgado. A seguir Zeinal Bava. Pelo meio Proença de Carvalho, Angola, defensor inicial dos dois maiores. Agora António Mexia, Manuel Pinho e outros. Não sei se a ordem é esta mas os nomes estão interligados. Mandavam. Relacionavam-se. Participavam em eventos juntos. Iam daqui para ali, e até para o governo, com o BES como ponto de referência. Pinho com Sócrates; Mexia com Santana Lopes. E todos com amnésia demencial quando visitam a Assembleia da República.

À volta destes nossos Dalton, aparentemente tão simpáticos quanto os desenhados por Morris, pulularam os capatazes, outros facilitadores, que serviram o maior conglomerado português em troca de mais umas lagostas, outros tantos robalos e casas em ‘off-shores’. Os nomes aparecem no pouco que se soube da lista dos grandes devedores à banca. Um ou outro burlão menor já está preso e cumpre pena. Era a eles que se entregava o capital que servia para fazer os negócios que o(s) banco(s) não podia(m) promover diretamente, nem através do seu próprio sistema empresarial. Assim nasceram ‘grandes empresários’, no imobiliário, nos vinhos, no sistema financeiro, no lixo, até na comunicação social. Uns para ganhar dinheiro, outros para, supostamente, darem boa fama ao dinheiro que se ganharia. Só dentro deste núcleo os grandes negócios engrenavam.

Lembro a maneira como o regime dessa gente combateu a OPA da Sonae sobre a Portugal Telecom ou como essa mesma PT, de Granadeiro e Bava, adiantou centenas de milhões ao BES em plena derrocada. Foi uma época negra da vida da República Portuguesa, da democracia que protestamos ser, em que as ‘golden share’ supostamente defendiam ‘o interesse nacional’ e os accionistas se cruzavam nas várias empresas, participando nas diversas assembleias gerais. Tudo começa agora a ter o devido retrato porque a investigação apesar de tudo (da falta de meios) funciona e porque o País ainda tem homens como o juiz Carlos Alexandre.

2 A violência do processo de que António Mexia agora é alvo pelo Ministério Público impressiona. Proibido de entrar nas instalações da empresa. Impedido de contactar colaboradores, presentes e passados. E isto passa-se quando a empresa – a EDP – já nem sequer está na órbita do Estado (embora pareça quando se constatam alguns nomes a que os proprietários chineses atribuem senhas de presença em conselhos à volta da direção executiva…).

Pessoalmente, lamento ver pessoas com a capacidade de Zeinal Bava e António Mexia a chafurdarem nesta lama. Ambos possuem uma dimensão profissional que lhes permitiria triunfar no meio empresarial pelo seu próprio valor. Mas a vida é o que é.

E é nestas alturas que devemos pensar que quanto maior for o Estado mais hipóteses temos de voltar a viver situações semelhantes. Agora que voltamos às nacionalizações, como na Efacec, e a mandar, como na TAP com a maioria do capital, convém ter isso bem presente.
E quando o PCP e o Bloco, mais toda a esquerda irromperem em aplausos pelo ‘povo’ voltar a mandar na economia, e pedirem “mais, mais”, lembrem-se: foram eles, a esquerda, que impediram, juntando-se ao PS, que soubéssemos mais, muito mais, sobre a CGD e os devedores da banca. É da natureza humana: quanto maior for o Estado, maior pode ser a pouca vergonha.

Nota Finalmente, as reuniões no Infarmed acabaram. Melhor: foram ‘interrompidas’. Mais vale tarde do que nunca. Curiosamente, isso aconteceu depois do ralhete de Costa à ministra da saúde, que obviamente desconsiderou Marcelo Rebelo de Sousa, na sala, teoricamente ao comando. Escrevi aqui sobre isso a semana passada. Espero que o PR tenha aprendido sobre as vantagens e desvantagens da ligação excessiva ao governo.