As bolsas regressaram aos fortes ganhos durante o primeiro trimestre de 2019. De facto, foi o melhor início de ano para as bolsas chinesas desde 2009, que registaram ganhos de 24%. No caso do índice  S&P 500, que registou uma subida de 12,87%, foi mesmo o melhor trimestre dos últimos 21 anos, ou seja, desde 1998.

Temos de questionar o que sabem os investidores que estão a comprar que outros não sabem, uma vez que os dados económicos de praticamente todas as economias apontam para um forte abrandamento. As últimas notícias do BCE e do FMI dão conta de uma redução substancial das suas previsões de crescimento para 2019 e 2020. As expectativas para os resultados das empresas americanas baixaram substancialmente, e as incertezas mundiais e geopolíticas continuam a pairar.

Por outro lado, o receio de estagnação económica reflectiu-se na redução das taxas de juro com os investidores dispostos a pagar para ficarem com obrigações alemãs a dez anos, no que pode ser considerado o efeito refúgio. Os últimos dados da economia europeia apontam para recessão na actividade alemã, e Itália já veio afirmar que não será possível cumprir os objectivos a que se tinha proposto.

Dentre os dados económicos e perspectivas de resultados menos bons, dois factos se destacam: o mercado continua a subir e os investidores/instituições com muito dinheiro estão a apostar na alta. 2019 aparenta ser o ano em que as más notícias são o melhor que os investidores poderão ouvir, pois os políticos apenas agem quando há perigo.

No fundo, trata-se de uma aposta de que tudo irá correr bem. Existem vários catalisadores possíveis para sustentar uma subida continuada dos mercados, nomeadamente, um acordo entre os EUA e a China, um Brexit ordeiro, o apoio contínuo por parte dos bancos centrais que continuam a apoiar o sistema financeiro e a financiar os governos, as compras de acções por parte das empresas e, finalmente, os estímulos fiscais à economia chinesa, que têm um efeito global.

O primeiro trimestre foi também marcado pela inversão da curva de rendimentos nos EUA, o que pode significar que a Reserva Federal (FED) ao invés de subir as taxas de juro como estava previsto, possa iniciar ainda este ano um alívio de 50 pontos base. Este movimento significaria um estímulo monetário equivalente à redução de impostos que Trump implementou, com forte impacto no crescimento e investimento.

Não será por isso de espantar que menos de quatro meses após o pior Dezembro dos últimos 87 anos, principalmente quando muitos investidores que não acreditaram no valor das empresas ou do seu investimento, venderam, e não conseguem agora aproveitar as recuperações.

A paciência é uma virtude no mundo do investimento e o regresso dos mercados americanos a máximos históricos comprova que a liquidez e a confiança continuam do outro lado do Atlântico.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.