As audiências dos debates televisivos entre os líderes partidários refletem a falta de paciência do país para mais uma ronda de acusações em direto: as audiências caíram 13% no cabo e 40% nos canais generalistas. É evidente que as eleições de 18 de maio são uma invenção desnecessária de Luís Montenegro para tentar alcançar o que as eleições de 2024 lhe negaram: uma base de apoio estável e robusta no Parlamento.
Não há qualquer dúvida de que o país precisa e suspira por estabilidade governativa e menos ruído partidário, mas o presidente do PSD talvez tenha ido com demasiada pressa ao pote. Um ano foi insuficiente – embora melhor do que o ciclo anterior – para mostrar credenciais, até porque as decisões mais significativas traduziram-se numa espécie de devolução de rendimentos, parte 2 – a parte 1 coube a António Costa quando sucedeu a Passos Coelho. Os empresários estão naturalmente preocupados. A redução do IRC foi de apenas um ponto percentual e, no programa eleitoral que vai a votos, o PSD deixou cair o objetivo de colocar a taxa nos 15% – fica-se pelos 17%.
Como aconteceu noutras medidas (mal) apresentadas há uma semana pelo líder social-democrata, também aqui não foi dada qualquer explicação para tão súbito recuo. Será que não há critério algum? O leilão eleitoral está mesmo a deixar os portugueses baralhados com tantas promessas – da AD e do PS –, sem que se vislumbre a intenção de mudar o nosso arcaico modo de vida. Como disse Sérgio Sousa Pinto, somos tratados como periquitos a quem o governo dá ração. Este paternalismo só pode dar resultados medíocres: ganham os cortesãos do poder e não as pessoas.
Há uma terrível falta de ambição política no ar, o medo de perder esmaga qualquer vontade de mudança, não há uma única ideia mobilizadora capaz de iniciar o desmame do Estado. Perante a ausência de pensamento político, tudo o que sai da PGR ganha desmesurada visibilidade, até a burlesca investigação-zombie a Pedro Nuno Santos. Não vamos ter eleições a 18 de maio – será o dia de um julgamento popular no reino das suspeitas à la carte que só favorecem o patriota André Ventura.