Na sua última comunicação ao país, o Sr. ministro da Economia falou várias vezes em “medidas para evitar a destruição das empresas”. Por outro lado, os bancos propõem, por ganância e uma visão de curto prazo, cobrar o triplo da taxa a que se vão financiar ao BCE pelo dinheiro que é necessário canalizar para as empresas urgentemente.

Três coisas importantes, e ditas de forma muito clara para que os portugueses, os bancos e o próprio ministro da Economia entendam um pouco melhor toda esta situação.

Primeiro, a destruição que aí vem é a da economia como a conhecemos hoje – não é das empresas! Segundo, como não há uma banca de investimento em Portugal, nem o Estado conseguiu criar um Banco de Fomento, os bancos não conseguem deixar de pensar numa lógica de pequena mercearia como bancos comerciais, ainda por cima quando têm 100% do risco garantido pelo próprio Estado. Terceiro, as empresas não vão endividar-se nestas condições para agonizar num mercado escasso, incerto e onde os fundamentos da economia do Mundo 1.0 já não se aplicam.

O que vai acontecer é a seguinte reação em cadeia: (A) as empresas com os seus compromissos financeiros com a banca, cairão; (B) os (des)empregados dessas empresas farão disparar as prestações sociais do Estado; (C) os bancos cairão sem terem emprestado nada às empresas e com o crédito malparado todo das empresas e dos particulares; (D) em seguida, sem a receita fiscal das empresas e com um volume crescente de prestações sociais, somado ao esforço financeiro da guerra ao surto pandémico, o Estado estará sujeito a uma pressão brutal e, muito provavelmente, deixará de funcionar nos termos que conhecemos em Democracia.

Há uma semana escrevi uma lista de 10 medidas (são duas páginas que envio a quem as quiser ler), onde defino a base de uma aliança entre a sociedade civil (empresas, empregados, Banca) e o Estado. Desde quarta-feira passada, dia 25 de março, nas entrevistas que o ex-presidente do BCE Mario Draghi deu, vi propostas exatamente nesse sentido.

Na verdade, muitas pessoas de bom senso fizeram-no ao longo da semana: agir já, sem burocracia, emprestar a 0% (beneficiando ainda assim os bancos de 0,75%), responsabilizar empresários e por aí adiante. Esta estratégia define uma linha de base que podemos chamar ZERO e pode por isso dizer-se que qualquer coisa menos do que isso é NADA, para distender aqui um pouco!

Mas o Mundo 2.0 até pode ser muito melhor do que o atual. Em termos ambientais estão à vista os benefícios desta paragem brusca a que todos fomos obrigados, e que está a curar o planeta, antecipando metas que só seriam atingidas em 2030. Mas se não soubermos estar à altura de ler os sinais e não formos capazes de compreender que depois de tudo passar a nova ‘normalidade’ será muito diferente da que tínhamos antes, iremos falhar.

Vai ser preciso pensar no tipo de economia que queremos construir a partir do, ou com o, tal ponto ZERO. Uma economia circular, sustentável, que use recursos maioritariamente locais, onde o supérfluo e a sobreprodução são penalizados, com cadeias de abastecimento muito mais curtas e maior auto-suficiência dos países ou dos blocos (ex. UE).

Eu tenho esperança. Nos portugueses pela sua resiliência e capacidade de adaptação. Que o Governo e Sua Excelência o Presidente da República irão reagir quando perceberem os riscos que a Democracia corre. Que os bancos verão no fim do seu bluff a única oportunidade de verdadeiramente sobreviverem – se não o fizerem também não haverá mais contribuintes para os ajudarem!