O relatório Draghi propõe que se acabe com a fragmentação existente nas Indústrias de Defesa e do Espaço na União Europeia (UE). Num momento em que a UE compra aos EUA equipamento militar da ordem dos 160 mil milhões de dólares para fornecer à Ucrânia, a criação duma indústria de defesa pan-europeia é crucial.
Há dinheiro europeu para apoiar militarmente a Ucrânia, não há é produção europeia de armamento suficiente. A reindustrialização europeia deverá ganhar um novo impulso com a eleição de Trump e com a consciência de que é necessário aumentar os nossos gastos de defesa, já que o outsourcing que a Europa estava a fazer à NATO e, no fundo, aos EUA em termos de defesa, pode agora ser posto em causa por Trump.
Embora não tenhamos ainda uma política europeia de defesa semelhante à americana, dado a União Europeia não ser uma União Política, sendo a Zona Euro apenas uma União Económica e Monetária com uma Comissão em Bruxelas que não é um governo federal, ao contrário da União Política americana, consubstanciada num governo federal e num orçamento central suficientemente robusto, os países da UE deverão então avançar para um rearmamento generalizado face aos riscos atuais.
Conviria, embora com essas limitações, que a Europa aprendesse com os americanos o conceito de indústrias duais, em que o Pentágono, o verdadeiro Ministério da Indústria e Tecnologia dos EUA, passa às empresas privadas fabulosos contratos de desenvolvimento de equipamento militar.
O contribuinte americano, através dos gastos de despesa, paga o desenvolvimento dessas tecnologias e, a partir daí, as empresas facilmente desenvolvem produtos para aplicações civis utilizando tais tecnologias, o que leva a que os impulsos de despesa pública tenham óbvios efeitos de supply-side na economia, com a dinamização do lado da oferta e a criação de valor no mercado, com a produção de bens e serviços de forte conteúdo tecnológico.
Em termos nacionais, este novo enquadramento geoestratégico pode oferecer algumas oportunidades à indústria portuguesa. Temos algumas competências tecnológicas e de produção interessantes na indústria de defesa no âmbito do armamento ligeiro e, mais genericamente, no cluster AED – Aeronáutica, Espaço e Defesa, um cluster que, a seguir ao cluster automóvel, que ajudámos a desenvolver com o investimento da Autoeuropa, tem tido um grande desenvolvimento no nosso país.