A vida está sempre a dar-nos lições. Daí, a minha dificuldade com as proclamações e verdades absolutas dos homens.

Entrei no último congresso do CDS com um candidato a líder e uma moção. Foram meses a percorrer o país e quatro anos de percurso a afirmar uma visão diferente de partido, um modo diferente de estar na política. Não trocava nenhum desse esforço pelo equivalente em conforto. Conheci melhor gente que já sabia fantástica, conheci gente nova, aprofundei, se é que é possível ainda mais, a amizade com os fundadores do projecto comum. Estávamos juntos como sempre, batemo-nos com galhardia e elevação por aquilo em que acreditamos, colhemos inúmeras simpatias. Representámos um sólido projecto de mudança, de afirmação do CDS no espaço da direita democrática e moderada.

A dinâmica do congresso, e a permanente desinformação sobre a candidatura do Filipe Lobo d’Ávila, com rumores permanentes de uma desistência que não estava prevista, nem se verificou, mostrou que a vontade dos congressistas de terminar um ciclo político os concentrou em quem foi mais afirmativo nesse corte. Aquela sala em Aveiro ansiava por mudança, sentia-se no ar. Foi o fim de um tempo. Foi o início de um tempo novo.

Fieis ao que sempre dissemos, levamos a moção a votos, aceitamos o resultado democrático e, muito importante, sempre rejeitámos liminarmente qualquer coligação negativa, vulgo geringonça. Não havia da nossa parte um risco ou ameaça que preocupasse a nova direcção. Seguiríamos uma via construtiva, tranquila e discreta; o vencedor merecia tempo e a herança é pesada. Era este o estado das coisas e do espírito, quando ordenávamos as listas que iríamos levar a votos. Era assim que estávamos quando o Francisco bateu à porta da nossa sala.

O Francisco veio sozinho falar connosco. Não mandou emissários. Não tentou aliciar individualmente nenhum de nós. Foi desconcertante, no melhor dos sentidos. Foi homem e tratou-nos como homens. Uma boa novidade. O que se passou, salvaguardando a sigilo dos detalhes, não foi uma negociação, daquelas que sempre acontecem nestas ocasiões, mas sim uma conversa franca sobre os desafios que o CDS enfrenta e sobre como fazer face com sucesso ao que nos espera.

Não foi preciso mais do que a constatação da boa-fé, da determinação e da vontade de todos, para unirmos forças num objectivo comum. Foi um começo que não esquecerei e que renovou a minha relação com a política. As coisas estavam realmente a mudar em todos os sentidos. Ver a química entre o Filipe e o Francisco naquele palco, confirmou o que já sentia.

Do congresso sai também uma linha forte que não viu a sua proposta vencer. É uma linha com história no partido, penalizada por muitos anos de exposição mediática, por maus resultados eleitorais, por excesso de domínio da máquina partidária, mas válida, experiente e inteligente. O CDS não pode prescindir de ninguém, esse é um erro que não se pode repetir. Vencedores e vencidos têm que encontrar responsavelmente patamares de entendimento e participação, somando e não excluindo.

Neste momento, não valorizaria reacções perfeitamente normais, porque humanas, no rescaldo do congresso. Todos os que gostam do CDS são necessários; não se pede unanimismo, mas compromisso com o CDS. A crítica fundada e bem-intencionada terá sempre de ser ouvida e ponderada; a lealdade na crítica terá que vir acompanhada do apoio sincero na concordância.

Está tudo alinhado para que o CDS volte ao lugar que é o seu. Tudo se conjuga para que, com moderação e abertura, o CDS possa ser o novo porto de abrigo de toda a direita moderada, ponderadamente conservadora e social, que de repente se viu desalojada de um PSD legitimamente a rumar à esquerda. Há uma alternativa a António Costa e Rui Rio, evitando uma bipolarização entre iguais, com o benefício que isso traz para o quadro político nacional.

O Francisco Rodrigues dos Santos rompe com a tradição, tem energia a rodos, convicções fortes e muita vontade de pôr o seu carisma a fortalecer o centro-direita do espaço político português. Vai correr bem.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.