A França que não tem, ao contrário da Alemanha, a experiência e o hábito de acordos parlamentares com vista a coligações governativas estáveis, pode entrar numa instabilidade parlamentar na sequência das últimas eleições legislativas, exactamente o que De Gaulle queria evitar com a actual Constituição!
O índice da bolsa francesa ainda não recuperou da desvalorização verificada desde a marcação das eleições antecipadas.
E, felizmente, a imprensa e os mercados parecem não terem levado muito a sério o programa da Frente Popular, concentrando-se mais nos perigos da extrema-direita… É que, com o assustador programa da Frente Popular, iríamos a caminho da Revolução Comunista de Outubro de 1917! Alguns dizem que esse programa equivalia a um custo líquido de 6,3% do PIB francês e outros calculam que tal iria custar ao erário público cerca de 233 mil milhões de euros adicionais por ano!
Do lado do Rassemblement National (RN), as coisas, embora mais moderadas do que na Frente Popular, também não eram famosas. Segundo Ludovic Subran, economista-chefe da companhia de seguros Alianz, citado pelo “The Economist” (22 de junho, 2024), o programa do RN levaria a um custo líquido anual de 0,7% do PIB levando o défice francês dos actuais 5,7% do PIB para 6,4 % do PIB.
A França está numa situação de finanças públicas muito complicada, com uma dívida pública que já ultrapassa os 110% do PIB e um défice público superior a 5% do PIB, estando sujeita ao Procedimento por Défices Excessivos por parte da União e tendo as yields da dívida pública já alargado o spread em relação às da divida alemã e ultrapassado as yields da dívida pública portuguesa. Por isso, o actual ministro das Finanças Bruno Le Maire se propunha efectuar um corte de despesa pública da ordem dos 0,7% do PIB. E a Agência de rating S&P GLOBAL desceu o rating da dívida pública francesa de AA para AA- em 31 de Maio, ainda antes da arriscada decisão de Macron de convocar novas eleições.
Esta situação e a percepção dos mercados é agora agravada, em muito, pelos programas eleitorais propostos e pela perspectiva de instabilidade política e governativa que o resultado das eleições veio gerar.
Neste momento, a França é claramente o maior risco para a zona euro, e bem se pode dizer que ou a França resolve o impasse político, ou os mercados começam a tratar da saúde à dívida pública francesa, tendo a França o seu ‘momento Liz Truss’, com os consequentes riscos para a zona euro.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.