Uma coisa que sempre me fascinou foi o Desporto, com “D” grande. A ideia de competir para superar os nossos limites, desafiarmo-nos para fazer melhor e, porque não confessá-lo, bater os outros, é coisa que dá grande satisfação interior. Quem não gosta de provar preto no branco que é um autêntico campeão?
A mim não me tentam o futebol, o basquetebol ou o hóquei. Se quero mostrar que sou único, então tem que ser um desporto único, raro e extraordinário. É disto que ando atrás. Comecei por querer dedicar-me ao bog snorkelling e bater Andrew Holmes, o campeão mundial, no seu recorde de 1 minuto e 24 segundos.
O bog snorkelling consiste em percorrer uma vala de 55 metros cheia de lama para lá e para cá no menor espaço de tempo possível. Criado em 1976 no País de Gales, conta com campeonatos do mundo masculino desde 1994, feminino desde 2000, e junior desde 1997, mas penso que o junior tem uma altura mínima para o praticante não ficar abaixo da linha de superfície. Porém, desisti, pois parece-me pouco dignifying andar enterrado em lama até ao pescoço.
Passei então ao shin-kicking, em que dois participantes dão chutos (dos autênticos) na canela um do outro tentando mandar o adversário ao chão. Parece violento mas não é, pois as calças estão cheias de palha. É modalidade olímpica dos Cotswold Olimpick Games, que têm lugar todos os anos em Cotswold. Ir para casa com umas medalhas é tentador, mas depois desisti porque não consigo bater nenhum político nesta modalidade.
Seguiu-se o cheese-rolling, praticado em Brockworth, no Gloucestershire: põe-se um queijo de quatro quilos a rolar monte abaixo e vê-se quem consegue cruzar a meta com ele. O prémio é o queijo que, como chega a ultrapassar os 100 km/h, já tem magoado atletas (?) e espetadores. Mas mobiliza gente dos EUA, Austrália, Nova Zelândia e, imagine-se, Nepal – deve saber muito bem depois de umas passas. Gosto de queijo, mas desisti porque podem não me deixar entrar no avião por causa do cheiro.
Assim, atirei-me ao pea shooting, porque como não sou casado não me posso dedicar ao wife carrying. É atirar ervilhas secas a um alvo com uma zarabatana de 30 cms, uma espécie de tiro ao arco vegan, uma modalidade do século XXI, e desde 1971 tem o seu campeonato mundial todos os anos em Witcham, no Reino Unido. Atrai participantes dos EUA, Canadá, países nórdicos, Espanha, Nova Zelândia, França e Holanda, além dos britânicos. Mas o Brexit levou-me a desistir.
Então lembrei-me de criar uma modalidade nova, em Portugal. Porque não havemos, por uma vez, de estar à frente dos outros? Falei aos meus amigos criativos, e as ideias foram muitas. Ao fim de 15 dias estava à frente o Zé Luís, que propôs lavar os pés na fonte do Rossio, modalidade que seria certamente abençoada pelo Papa. Mas então o Ricardo teve uma ideia genial, que vou seguir: roncar na Assembleia da República. Só não sei se conseguimos bater os que lá estão.