O setor da engenharia, construção e imobiliário incorpora atividades com enorme relevância e efeitos multiplicadores nas economias modernas, sendo de esperar que as mesmas venham a desempenhar um papel determinante na recuperação da crise económica resultante da pandemia da Covid-19.

A pandemia da Covid-19 irá provocar incontornavelmente a maior crise económica mundial recente, superando largamente a crise financeira de 2007-2008. As projeções mais recentes de organismos internacionais como o FMI, a OCDE e o Eurostat apontam para quebras do PIB mundial cada vez mais próximas dos dois dígitos, com efeitos gravíssimos no emprego, na pobreza e nas desigualdades sociais.

As caraterísticas da pandemia Covid-19 estão a determinar impactos muito assimétricos entre setores económicos, afetando particularmente as atividades com maior grau de socialização (e.g. viagens, do turismo e do comércio) ou mais vulneráveis a disrupções das cadeias de abastecimento globais (e.g. indústria automóvel).

O setor da engenharia, construção e imobiliário, pelo facto de ser muito fragmentado e ter maioritariamente cadeias de abastecimento curtas, está entre aqueles que foram menos afetados no imediato pela pandemia Covid-19. A carteira de projetos em curso, apesar de enfrentar algumas perturbações, deverá garantir ao setor um nível de atividade relevante por algum tempo.

Contudo, o caráter pró-cíclico deste setor torna-o fortemente vulnerável à crise económica em aprofundamento. A sua atividade tenderá a reduzir-se acentuadamente nos próximos meses com a forte contração esperada no investimento empresarial e das famílias, à medida que o ciclo de recessão se acentua.

O setor da engenharia, construção e imobiliário possui uma enorme importância nas economias modernas, não apenas pela sua relevância direta e indireta no PIB e no emprego, mas também pelo papel que tem nas infraestruturas que constituem as bases de funcionamento das nossas sociedades e das nossas vidas. Em Portugal, este setor responde, de forma direta, por cerca de 10% do Valor Acrescentado Bruto e do Emprego de todo o setor empresarial e por mais de 14% da sua Formação Bruta de Capital Fixo.

Para além do amortecimento dos efeitos da crise da Covid-19, o setor tenderá a assumir um papel preponderante nos planos de recuperação que estão a ser desenhados pelos vários governos à escala global. Isso constituirá uma oportunidade para o setor crescer em Portugal e para se afirmar em termos internacionais.

Contudo, para esta oportunidade ser devidamente capitalizada, é importante atender ao facto de que os estímulos públicos terão uma forte orientação para os desafios societais que atualmente pressionam a humanidade, designadamente a sustentabilidade ambiental, a descarbonização, a transição energética, a circularidade e a digitalização.

Significa isto que o setor da engenharia, construção e imobiliário nacional deverá aproveitar o plano de recuperação à Covid-19 para acelerar o processo de transformação que tinha em curso para se tornar mais competitivo. Para esse efeito, será crucial encontrar as melhores respostas para os desafios que enfrenta, designadamente em matéria de sustentabilidade, pressão sobre os custos, escassez de recursos humanos qualificados, novos materiais, industrialização, especialização, consolidação, colaboração, internacionalização e digitalização.