Após duas semanas de aulas, há professores por colocar, horários incompletos, actividades escolares paralisadas e serviços fechados por falta de funcionários. Quem tem filhos no básico e no secundário sabe disto. E os directores das escolas mais do que ninguém.
O presidente da Associação Nacional dos Directores das Escolas Públicas diz: “a situação é dramática”, mas os “os sindicatos não têm feito aquele barulho natural numa situação tão grave como esta. Se fosse noutro tempo estavam a fazer barulho”. É claro que os sindicatos não fazem nem vão fazer barulho algum. E todos sabemos que se isto fosse “noutro tempo” que, por acaso não é muito distante, a gritaria, acompanhada das passeatas do costume, faria títulos. A gritaria e a passeata são apenas o reflexo da concepção leninista do movimento sindical.
Cem anos depois, a Fenprof e, em geral, os sindicatos na órbita do PCP, continuam a professar o mesmo entendimento do movimento sindical. Os sindicatos servem para desestabilizar o poder “capitalista” (entre nós os governos do PSD/CDS) e dar expressão às reivindicações dos trabalhadores apenas e tão só na medida em que aquele primeiro desiderato se cumpra. Caso as “condições da luta” e as “relações de poder” traduzam outra “realidade” mais favorável aos “trabalhadores” (entre nós o governo PS/PCP/BE), o silêncio impera. Só que esse silêncio, e sobretudo as suas razões, incomodam.
Não são só os directores das escolas, que há muito perceberam o papel dos sindicatos. São sobretudo os professores que, na sua inocência (hoje ninguém é obrigado a ter aulas de marxismo-leninismo como eu tive há 40 anos), ainda acreditam que os sindicatos servem para defender os seus interesses. Que o digam as centenas de professores do ensino particular e cooperativo que, de um dia para o outro, se viram à porta dos Centros de Emprego por decisão da “geringonça”, quando exterminou os contratos de associação. Que me recorde, nem uma voz da CGTP/Intersindical se ouviu para os defender. É claro que para a CGTP os professores do ensino particular não deveriam sequer existir, nessa promessa “leninista” de um Estado patrão de toda a gente, professores e alunos.
Em Portugal, ser sindicalista continua a ser bom nos tempos que correm. A semana passada alguém lamentava que só na Polícia existem mais de uma dezena de sindicatos e centenas de sindicalistas, com as regalias próprias do estatuto, uma delas a dispensa de trabalho, sem prejuízo do salário, para “defender os colegas” e participar nas passeatas.
Não se lamentem. Como dizia Nelson Rodrigues, há um intelectual de passeata, como há um padre de passeata ou uma actriz de passeata. E também há sindicalistas de passeata cuja única função é… passear. E por falar em Nelson Rodrigues: não deprimam com Valter Hugo Mãe, João Tordo ou Clara Ferreira Alves, leiam o Homem Fatal (Tinta da China). Com 50 anos de atraso… mas leiam!
O autor escreve segundo a antiga ortografia.