O empresário Elon Musk anunciou a criação do “America Party”, uma nova força política pró-tecnologia que promete desafiar o sistema bipartidário dos Estados Unidos, cuja fundação surge após o relacionamento com Trump ter azedado. Uma iniciativa que está a preocupar os investidores da Tesla – que tempo e atenção irá Musk dedicar ao projeto?
Criado para desafiar o homem que, há poucas semanas, era seu chefe e presidente do Partido Republicano, entre as prioridades do novo partido, estão a redução da dívida pública, a modernização das Forças Armadas com IA e robótica, menos regulamentação no setor energético e políticas de apoio à natalidade.
Para o presidente dos EUA, a ideia é “ridícula” e avisa que “terceiros nunca funcionaram”, ameaçando com cortes contra as empresas de Musk, incluindo a SpaceX, que se tornou um ator crucial para a NASA.
Distanciando-se ainda mais de Donald Trump e do Partido Republicano, que se tornaram os seus alvos quando recentemente criticou os gastos de Trump, o bilionário da tecnologia e chefe da Tesla pretende minar cadeiras cruciais no Congresso. O objetivo é claro: tentar transformá-las e ganhar vantagem durante as votações em questões chave como cortes na dívida e gastos excessivos dentro do governo.
O maior doador republicano do país está, aparentemente, comprometido em fazer campanha contra qualquer republicano que tenha demonstrado apoio e votado no Grande e Belo Projeto de Lei Orçamental, que levará ao maior aumento da dívida da história dos EUA e que Musk apelida de “abominação repugnante”, e se opõe veementemente.
Musk – que por ser de origem sul-africana não pode ser presidente dos Estados Unidos – poderá financiar uma campanha eleitoral musculada para o seu partido, que embora com improvável vitória massiva, poderá tornar-se uma alavanca legislativa fundamental para certas iniciativas.
Um génio que se tornou um ícone de inovação, Musk representa a liberdade: o bilionário propõe-se “devolver aos americanos” a esperança e o sucesso económico que compõem o Sonho Americano. Ingredientes que encantam os seguidores insatisfeitos e ambiciosos do empresário, que não deixam de ser uma capa inquietante do desígnio de poder global para tentar alargar o seu domínio na esfera digital e tecnológica como ferramenta diplomática, com uma agenda político-ideológica alinhada ao populismo de direita.
Elon Musk lançou um foguetão político para transportar a sua ambição desmedida, cortando os laços que o uniam a Trump. O mesmo ex-melhor amigo que, no seu discurso de tomada de posse, sinalizou a missão de levar humanos a Marte, prosseguir o destino até às estrelas, lançando astronautas americanos que plantam as estrelas e riscas no planeta Marte.
Resta agora saber se o Partido Americano de Musk replicará o sucesso do partido original do século XIX, que teve nas origens o movimento Know Nothing (“Não sei Nada”), populista e xenófobo, que colocou o sistema político americano em crise. Da xenofobia às teorias da conspiração, ainda se fazem sentir hoje os efeitos daquele movimento nativista que queria restaurar a sua visão de como a América deveria ser. Os atores são os mesmos, mas com nomes diferentes.