O Banco Central Europeu (BCE) iniciou a sua descida dos juros, após verificar um abrandamento da evolução dos preços, e da pressão de vários países, que alertaram a instituição para o impacto da subida excessiva dos juros na população. Os últimos dois anos foram particularmente difíceis para as famílias que, entre aumento da inflação e subida dos juros, estão com cada vez mais dificuldades económicas, o que em parte foi refletido nas eleições europeias.

Mas esta política do BCE teve vencedores. Nos últimos dois anos, temos vindo a assistir a uma transferência bilionária, que tem passado despercebida, entre o BCE e os bancos da zona euro.

Com efeito, a subida dos juros permitiu aos bancos começarem a receber, ser remunerados, pelo dinheiro depositado no BCE ou aplicado no mercado monetário, algo que não acontecia até 2022, quando as taxas de juro eram negativas. Foi aliás essa uma das justificações das entidades bancarias para a subida das comissões – o custo com o dinheiro. As instituições simplesmente não queriam ter muito dinheiro parqueado porque era um custo!

Entretanto, os juros sobem, mas o nível de comissões também. Esta transferência de dinheiro entre o BCE e os bancos, aliada à aversão ao risco dos portugueses, é o que permite a alguns bancos em dificuldades deixarem de o estar, sem serem reestruturados.

As dificuldades deveriam obrigar a alterações nos modelos de negócio, alteração de gestores e responsabilização pela gestão. Mas com este suporte do BCE, tudo fica como está e não existe incentivo à mudança. É bom termos um setor financeiro forte e resiliente, pois só assim é possível a economia continuar a funcionar, mas não deveria ser à custa da diminuição do poder de compra das poupanças.

Mais de metade dos depósitos em Portugal não são remunerados aos depositantes, ou continuam próximo de zero naquilo que é a transferência entre famílias para os bancos. Não há taxas ou imposto extraordinário que resolvam um problema que é suportado pela autoridade de supervisão máxima – o BCE. Ultimamente ouvimos que estes lucros são temporários e que os lucros irão descer, talvez numa tentativa de acalmar os políticos que defendem impostos sobre lucros extraordinários, que na prática são sempre definitivos.

Mas se olharmos para as perspetivas de evolução dos juros na zona euro, vemos que estes irão estabilizar nos 2,5% o que irá conferir uma excelente margem às instituições financeiras que vão conseguir conservar este nível de resultados.

Sendo apologista do lucro e de uma sociedade eficiente, defendo também que tal não pode ser feito à custa da desvalorização do dinheiro, principalmente de quem tem menos literacia financeira. É por esta e outras que a discrepância nas sociedades aumenta e o descontentamento sobe. As pessoas têm menos dinheiro e não entendem porquê.

E também é por isso que os mercados de ações continuam a subir. Quem tem mais conhecimento, investe! O dinheiro parado serve para financiar terceiros, não está a criar riqueza para o próprio e contribui para este subsídio do BCE.