1. A discussão em torno da eutanásia já teve o condão de congregar as confissões religiosas preponderantes na sociedade portuguesa. Cristãos, muçulmanos e judeus estão unidos na discussão e no diálogo e formam uma frente muito ampla que, à primeira vista, vai obrigar o primeiro-ministro António Costa a parar para melhor repensar o assunto, nem que seja através de uma desculpa processual.

O tema da despenalização da morte assistida, da antecipação da morte ou da eutanásia, como lhe queiram chamar, deve ser debatido por todos os atores da sociedade portuguesa, incluindo a Ordem dos Médicos, os grupos religiosos, os cidadãos e os parlamentares. Aquela esteve quase a ser aprovada em 2018 e só não o foi por um punhado de deputados que se contam pelos dedos de uma mão. Na Holanda o tema está a passar pela discussão da oferta de um comprimido para quem tem mais de 70 anos e quer colocar um ponto final à vida.

Se a questão for vista de uma forma linear, rapidamente concluímos que se está a aprovar algo desumano, que vai contra os nossos princípios de formação e que arrisca ser um tema fraturante na sociedade. O Presidente da República irá manter-se no silêncio até ao fim, já o disse, para evitar tomar partido por um dos lados e perder a capacidade de ser o mediador.

Os católicos e outras confissões religiosas estão muito ativos e a ideia de um referendo de iniciativa popular sobre o assunto começa a ganhar contornos. Já existe uma petição nesse sentido. E, independentemente de em Portugal apenas 20% da população professar efetivamente uma religião, existe uma consciência de fundo quanto à vida, mesmo quando esta é passada em sofrimento. O indivíduo, a família e a sociedade arriscam entrar em conflito se um amplo debate nacional não revelar os prós e os contras, não limpar o tema das consciências e assumir que ninguém é dono da vida dos outros.

Relembremos o tema do aborto, que continua a abrir brechas na sociedade mesmo depois de ter sido aprovado em referendo e de o Parlamento despenalizar a Interrupção Voluntária da Gravidez. Haverá sempre quem discorde, mas a ditadura da maioria legitima as opções legislativas. Recordemos que a nossa Constituição “socialista” diz que a vida humana é inviolável.

2. A venda do EuroBic ao Abanca comporta três factos geradores de especulação e para os quais ainda não há respostas. Desde logo a rapidez do negócio. Comprar bancos costuma demorar meses, neste caso demorou poucas semanas. Depois, questionamo-nos como se fez a due diligence em tão pouco tempo para se ter a correta noção do que é comprado e do que é vendido, nomeadamente as implicações com as participações externas, caso de Cabo Verde. E, por último, qual a necessidade do acionista Fernando Teles ter vendido pois, por aquilo que se sabe, não é visado em processos judiciais. Terá sido uma exigência do Abanca ter capital de controlo ou terá sido algo para além disso?