Em tempo de Estado da Nação analisa-se o desempenho do atual Governo socialista, agora acossado à esquerda e fatalmente preso na teia que construiu no âmbito da geringonça.

Enquanto a ação do Governo se concentrou na alteração da maioria das medidas mais contestadas do governo de Passos Coelho, os partidos de esquerda foram-se entendendo, melhor ou pior, com mais ou menos espalhafato.

Grande parte dessas medidas desse governo de tempo de exceção, consistiu na correção de situações herdadas do governo também socialista de José Sócrates. Políticas impensadas, erráticas e erradas, demagógicas e desprovidas de ligação com a realidade, cujo único objetivo era fazer brilhar e não governar.

Foi o próprio PS a detetar e a assumir essas situações, com o Memorando de Entendimento que abriu a porta ao condicionamento político que marcou uma legislatura inteira e que os socialistas renegaram, batendo no peito múltiplas vezes e múltiplos meses.

Três anos e três orçamentos depois chegamos ao momento em que se erguerá a última cortina. Esgotadas as emendas, repostas as facilidades, é novamente tempo de renovar os votos de solidariedade entre a esquerda com vista às eleições do próximo ano.

À porta desse último ano de legislatura fica um défice público controlado, mas uma economia que dá sinais de saturação. Uma dívida pública que parece incontrolada, mas com a qual o eleitorado não se preocupa. Taxa de desemprego extremamente baixa, mas que exige continuação futura e não apenas uma dimensão conjuntural.

Saúde, Educação e Segurança Social serão os domínios mais frágeis da governação. Por ela se tira a bissetriz da falta de estratégia e perspetiva de futuro. Sinal de como este governo rosa gere e não governa, apenas reage e não atua. Pensa demasiado no passado e nada para o futuro.

Preso nas suas contradições ideológicas, temeroso de perder espaço para a esquerda, o PS tudo fará tudo para sobreviver no poder. Com o sonho da maioria absoluta em esfumação, António Costa estará disponível para dar com uma mão aos atuais parceiros, mantendo a ilusão de se conciliar com uma parte à sua direita. Nisso se reconhece a sua arte.

O estado da nação dos números e das estatísticas até pode ser animador. Sabe-se como é possível manipular informação e dosear a atenção sobre aqueles. Mas isso não nos dá perspetivas de evolução. O drama face ao Governo é que não temos confiança nele. Pode ter proporcionado liquidez imediata e alívio na bolsa e crédito individual. Mas tememos o regresso rápido a um tempo que não queremos viver de novo.

Os parceiros da geringonça não se preocupam. O seu objetivo é aceder ao poder, seja no governo, seja regressando a algumas autarquias perdidas. Para estes parceiros é tempo de cobrar os apoios prestados e de celebrar a liquidação da solução. Depois das eleições nada será como antes. E sabem todos que os governos socialistas acabam sempre tragicamente, talvez não nesta legislatura mas seguramente antes do fim da próxima.