A política tem uma velocidade alucinante nos seus movimentos que ajudam a que a memória se desvaneça rapidamente.
Luís Montenegro, apesar da união interna que construiu durante a sua liderança, ganhou o partido numa óptica de ser o melhor para fazer oposição a um Governo de maioria absoluta com (a priori) tempo garantido para cumprir uma legislatura de quatro anos.
Mas, fruto dos ditos casos e casinhos e dos problemas que o próprio Executivo do PS suscitou, essa maioria difícil de obter em qualquer país democrático nos dias de hoje deteriorou-se e esboroou-se por completo.
Até ao momento em que foram encontrados 75 mil euros em São Bento, entre livros do chefe-de-gabinete de António Costa, o PS tinha ultrapassado o “Galambagate” e já estava no controlo dos acontecimentos, voltando a gerir a agenda política sob a batuta do seu timoneiro, que era, verdadeiramente, o factor de equilíbrio e estabilidade do nosso sistema político.
E, assim, eram múltiplas as vozes que apontavam o teste das eleições europeias como o prazo de validade para a liderança de Luís Montenegro, que não descolava nas sondagens e não seduzia com as suas propostas substancial parte dos portugueses.
Porém, como aconteceu a Durão Barroso, que também passou por inúmeras interrogações enquanto líder da oposição, duvidando-se da sua capacidade de ganhar eleições ao bloco rival, a demissão do primeiro-ministro (na altura António Guterres, que bateu com a porta cansado do “pântano”) fez cair-lhe o poder nas mãos.
Montenegro ganhou fraco nas eleições de 10 de Março, tal como Durão Barroso bateu de maneira pífia Ferro Rodrigues em 2002. Mas ganhou. Agora, depois do triste espectáculo da indigitação que o levou a Belém duas vezes numa noite, fruto dos habituais florentinos bailados de Marcelo Rebelo de Sousa, chegou o tempo de se perceber como vai o líder da coligação AD governar.
Tal como Pedro Passos Coelho quando chegou a São Bento, nunca teve uma experiência de gestão no Governo ou numa câmara municipal, contudo, ao antigo líder já se intuía um estilo assente na autoridade natural que emanava, enquanto o novo PM é uma incógnita.
Até ao momento, esteve bem em campanha eleitoral e no silêncio que o norteou nesta fase até à indigitação. Agora compete-lhe escolher as peças certas para o Governo e os dossiers essenciais para a sua afirmação, sem esquecer que tem os cofres cheios mas com uma instabilidade latente que pode manietar o seu rumo. Veremos os tempos de Luís Montenegro.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.