A tão proclamada crise na direita não é mais do que uma oportunidade esperada há muito. Desgastada por décadas de erosão política e uma recente crise económica, agora é o momento certo para uma reconfiguração da direita com novas premissas e players fortes. As circunstâncias que tantos se têm dedicado a chamar de divisão à direita é uma mudança das peças no tabuleiro mais do que necessária, ainda que poucos a percepcionem como tal.
Esperava-se que Rui Rio, enquanto líder do maior partido da oposição, fosse o impulsionador de uma aliança entre os partidos e movimentos de direita. O facto de ter optado por uma oposição apagada, e de dar como perdidas as eleições de 2019, decretou a sua morte política. Foi onde era mais preciso que falhou de forma mais estrondosa. Será difícil a Rio, depois de sete meses de liderança ausente, arrumar a casa e congregar apoios ao seu redor. O PSD não pode ser um mero partido de apoio do PS, nem o país pode deixar a democracia entregue a estas circunstâncias.
Não é fácil os novos projectos políticos singrarem – o país continua sob o jugo dos mesmos partidos há quatro décadas. Mas não é por olharmos para projectos falhados, como o Livre de Rui Tavares ou o PDR de Marinho Pinto, ou o caso mais antigo do Partido da Nova Democracia de Manuel Monteiro, que se decreta que lançar um novo partido é um acto destinado a falhar à nascença.
Essas vozes, e são tantas, esquecem o mais importante e ignoram o óbvio, as circunstâncias políticas e os líderes é que ditam a sorte dos projectos, já que na direita, e em matéria de liberalismo, não restam dúvidas de que o país necessita urgentemente de novos intervenientes e de edificar uma estratégia alternativa de governação.
A oito meses das eleições europeias e a pouco mais de um ano das legislativas, a encruzilhada em que a direita se encontra é simples de diagnosticar – ou se reinventa e une em torno de um programa reformista liberal, ou recua e pactua com a actual fragilização da democracia que conduzirá o país a mais um descalabro económico.
Se optar pelo primeiro caminho, urge que comece a encarar a situação actual não como uma crise, mas como o momento crucial há muito esperado de renovação geracional e política.
As mudanças que configuram uma futura nova composição no centro-direita da política portuguesa podem sem dificuldade elevar a fasquia nas sondagens recentes, bastante positivas quanto a novas formações partidárias à direita.
Afinal, estamos no mesmo país que em 2015 deu a vitória à coligação PSD/CDS, depois de uma crise económica violenta e de reformas profundas nem sempre bem aceites. Se isto não diz nada à maioria dos que agora profetizam futuros de castelo de cartas, é por falta de visão e opiniões ausentes da realidade – o futuro é capaz de já se vislumbrar mas poucos deram por isso.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.