Na era dos grandes modelos de linguagem, onde a Inteligência Artificial (IA) e a automação estão a tornar-se, cada vez mais, presentes nas nossas vidas, surge um desafio que muitos não previam: a hipereficiência. À medida que a IA se torna capaz de realizar tarefas complexas a um ritmo acelerado, somos confrontados com a pressão de acompanhar esse ritmo implacável. No entanto, é crucial que paremos para refletir sobre o verdadeiro significado do tempo nas nossas vidas e sobre como essa busca frenética pela eficiência nos pode afastar do que realmente importa.

Vivemos numa sociedade obcecada pela produtividade. Valorizamos cada minuto que passa e estamos constantemente em busca de maneiras de “economizar” tempo. Os avanços tecnológicos proporcionaram-nos inúmeras comodidades e permitem-nos realizar tarefas numa fração do tempo que levaria no passado. Mas será que estamos a usar esse tempo extra da maneira “certa”? Será que estamos realmente a viver mais ou apenas a tornarmo-nos escravos da nossa própria busca pela eficiência?

A verdade é que a hipereficiência tem um preço. À medida que nos esforçamos para realizar mais, em menos tempo, vemo-nos sobrecarregados e constantemente conectados. Os smartphones e dispositivos digitais mantêm-nos conectados 24 horas por dia, sete dias por semana. E-mails, mensagens instantâneas e notificações mantêm-nos presos num círculo vicioso de trabalho constante. Estamos sempre disponíveis, sempre online, sempre conectados, sempre ocupados. Onde fica o tempo para o descanso, para a reflexão, para as relações humanas?

Esta busca pela eficiência pode afastar-nos daquilo que realmente dá significado às nossas vidas. Perdemos de vista a importância das pausas, da contemplação, do tempo gasto com as pessoas que amamos. A pressão constante para fazer mais em menos tempo leva-nos a negligenciar nossa saúde mental e física. O stress, a ansiedade e a exaustão tornam-se companheiros constantes, e muitas vezes não encontramos tempo para cuidar de nós mesmos.

Além disso, a hipereficiência também traz consigo o risco de perdermos a nossa individualidade e criatividade. À medida que a IA se torna capaz de realizar tarefas que antes exigiam habilidades humanas, corremos o risco de nos tornarmos meros espectadores das nossas próprias vidas. A originalidade e a inovação requerem tempo e espaço para a reflexão e a experimentação. Se estamos constantemente a correr contra o relógio será mais difícil de alcançar o nosso verdadeiro potencial como seres criativos e pensantes.

É, portanto, indispensável que reavaliemos a nossa relação com o tempo e com a eficiência. Em vez de nos esforçarmos para sermos cada vez mais rápidos e produtivos, devemos concentrar-nos em encontrar um equilíbrio mais saudável entre produtividade, eficiência e… existência, ou seja, vida . Valorizemos o tempo para o descanso, para a contemplação e para as conexões humanas significativas. Sejamos atrevidos ao ponto de sermos imperfeitos, de cometer erros e aprender com eles. Devemo-nos lembrar que o tempo é um recurso limitado e precioso e devemos usá-lo cautelosamente, com sabedoria e propósito.

A hipereficiência pode parecer atraente num mundo acelerado, mas precisamos questionar se realmente nos queremos tornar prisioneiros dessa busca incessante pela produtividade e pela eficiência. O tempo é o nosso luxo supremo e cabe a cada um de nós decidir como queremos gastá-lo. Devemos valorizar a qualidade de nossas experiências, o significado de nossas ações e as relações humanas que nos enriquecem. Somente assim poderemos encontrar o verdadeiro equilíbrio num mundo que valoriza a velocidade, mas que esquece a importância do tempo bem gasto.

O autor assina este artigo na qualidade de responsável pela relação entre a psicologia e a tecnologia na Ordem dos Psicólogos Portugueses.