Há muitos dias em que me levanto cansado e farto do mundo em que vivemos, dificilmente explicável a um qualquer extraterrestre que demandasse o nosso planeta e se deparasse com as incoerências da espécie humana. O Homem é um ser que consegue combinar, numa simbiose difícil de imaginar, a inteligência suprema e a estupidez profunda, sendo capaz das maiores proezas e, simultaneamente, das maiores imbecilidades.
Vem isto a propósito dos atentados terroristas que, em especial nos últimos tempos, a todos parecem afetar, fazendo com que as pessoas vivam em constante sobressalto, e da guerra-fria que se intensificou entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte.
Depois de junho de 2014, data em que o Estado Islâmico se autoproclamou califado, com Abu Bakr al-Baghdadi como seu califa, que o mundo não foi mais o mesmo, com uma onda de atos terroristas a varrer o planeta, fazendo de cidades outrora tranquilas palcos de medo e insegurança, sempre à espera que um novo atentado possa vir a pôr em causa a paz que tradicionalmente caracterizava o dia a dia dos seus cidadãos.
Paris, Nice, Londres, Manchester, Bruxelas, Copenhaga, Estocolmo, Berlim e, mais recentemente, Barcelona, são algumas das cidades que, nos últimos três anos, foram vítimas de ataques terroristas, que mataram centenas de pessoas, fazendo da Europa, tradicionalmente um continente pouco fustigado por estes fenómenos, palco de violência e brutalidade.
Com Deus como pretexto para lançar os ataques mais bárbaros, algo que sucede recorrentemente na história da humanidade, o Estado Islâmico vem rivalizando com a Al-Qaeda, tendo conseguido recrutar um imenso bando de fanáticos, capaz de aderir aos princípios da jihad global, que defende uma interpretação antiocidental extrema do Islão, promove a violência religiosa e que considera infiéis e apóstatas todos aqueles que não concordam com a sua interpretação do livro sagrado.
Enquanto isto, nos antípodas, assistimos ao aparecimento de um verdadeira guerra-fria entre norte-americanos, liderados por um inconstante Donald Trump, capaz de pôr de cabelos em pé os mais acérrimos republicanos, confrontados com os erráticos estados de espírito do mais recente inquilino da Casa Branca, que faz do Twitter o seu maior aliado, e norte-coreanos, chefiados pelo jovem louco Kim Jong-un, dono de uma personalidade marcadamente narcisista, capaz de atemorizar os seus mais próximos, que se vêm confrontados com a possibilidade real de, do dia para a noite, passarem de confidentes a rivais, perdendo, literalmente, a cabeça ao mais pequeno descuido.
Num país onde a esmagadora maioria da população vive abaixo do limiar da pobreza, a capacidade militar é verdadeiramente assombrosa, dispondo a Coreia do Norte do quinto maior exército do mundo, com mais de um milhão de homens, de um programa nuclear com elevada sofisticação e de mísseis balísticos capazes de tirar ao sono não só aos seus vizinhos sul-coreanos, mas, também, aos todos poderosos Estados Unidos da América.
Os últimos meses têm mostrado uma intensificação das demonstrações de força por parte dos norte-coreanos e uma perda progressiva da paciência do lado norte-americano, onde o Presidente Trump tem lançado mão de um discurso progressivamente mais belicista em relação a Pyongyang. O mundo apresenta-se assim, claramente perigoso, dependendo o futuro da humanidade dos humores de duas personalidades controversas, que não fazem do equilíbrio e da coerência as suas principais virtudes.
Não é pois de estranhar que, tal como eu, muitos dos que ocupam o terceiro calhau a contar do Sol vivam em crescente sobressalto, cansados de assistir, diariamente, à estupidificação da raça humana, receando que o mundo aprazível em que nasceram se transforme num mar de chamas e destruição, pondo em prática cenários que outrora só eram equacionados nos mais terríficos filmes de ficção científica.
É caso para dizer, pelo menos para aqueles que ainda depositam as suas esperanças numa entidade superior: valha-nos Deus.