Vivemos uma clara crise na habitação. Vamos deixar de lado a questão de ninguém a ter visto surgir no horizonte, como se fosse possível um choque assim acontecer sem pré-aviso.

Não soubemos ler sinais, mas já percebemos que a oferta de casas tem sido limitada porque construímos muito pouco desde a crise financeira e económica de 2008-2010 – uma fração do aumento médio do parque habitacional na União Europeia. Também todos temos consciência de que a procura tem aumentado, porque somos mais habitantes em Portugal – o número de residentes tem crescido paulatinamente desde 2020, mesmo sem contar com a pressão do turismo.

Os principais partidos concordam nestas dinâmicas e, até, em algumas das soluções para se resolver o problema, tanto do lado da oferta (menos custos e muito menos burocracia) como da procura (para que a classe média consiga ter casa), também em relação à participação do Estado num mercado onde tem estado obstinadamente ausente.

Tem-se reagido muito por tentativa e erro, o que é um problema na política, porque acabam a discutir se o meu erro é melhor que o teu. O tema seria central nesta campanha eleitoral, obviamente, não fossem estas legislativas atípicas, com discussões perdidas em tricas e em questões laterais às opções de governação.

Agora, é um teste de maioridade das atuais lideranças, da capacidade de ultrapassarem divergências para que se encontrem soluções, como ficou demonstrado na conferência que o Jornal Económico promoveu com a CMS Portugal. Não se resolve numa legislatura e os investidores abominam inconstância legislativa e fiscal. É um sinal para que se entendam.