“A escola é uma forja de espíritos” – J. Martí
Ao longo desta longa realidade pandémica, vi a “Escola” como um saco de boxe, pela dureza dos desencontros frustrados e por tantos descarregarem nela. Vimo-la longe da uniformidade consensual nas alturas de confinar, nas decisões difíceis de quando abrir e fechar. Como se a Escola fosse um problema e não sempre a solução. Ou parte dela.
Num traço sociológico, e na visão de J. F. Almeida, a Escola foi evoluindo, passando da institucionalização à rutura radical, nos modos como a temos: uma organização social da transmissão de saberes. Estando, nos países mais industrializados, dotada de capacidades básicas (= literacia). Deparamo-nos com a diferenciação das competências escolares, com vista ao futuro diploma universitário.
Neste funcionamento e desenvolvimento das sociedades contemporâneas, verifica-se o aumento do número médio de anos de escolaridade, que leva à transferência da função básica de socialização para a instituição escolar. Revê-se nela a inculcação de valores e normas sociais, sendo compartimentadas em cada sala de aula, como espaço formal. Nela, não se esgotam as ações discente nem docente.
Com o progresso da escolaridade e crescente idade média de entrada na vida ativa, aponta-se para uma juventude com recorte social e etário específico. E, a partir daqui, surge o vetor económico associado ao escolar. Na primeira aresta deste triângulo, acompanha-a o canal da terciarização, pelo ângulo da interdependência/mercado de trabalho. E nesta relação permanente e permutante, defrontamo-nos com:
– Escola de “conhecimentos públicos” vs. vida prática do mundo empresarial;
– Ensino secundário e fileiras técnico-profissionais vs. Universidade;
– Especialistas vs. conhecimento geral e polivalente.
Perante isto, o ângulo que falta para formar o triângulo – e criar a face dinamizadora que se põe e impõe na Escola – é o da “Cidadania” (prioritária face à “Economia”, em termos formativos e integrais). Com ela, resultam as capacidades de escolha, definindo que a escolarização tanto é um direito elementar, bem como é indispensável para o exercício de direitos e deveres e para a participação social e política.
Nesta simbiose cumpre-se melhor a universalização do acesso ao ensino e a erradicação do analfabetismo, ambas colmatadas na democratização dos saberes, das oportunidades e das competências – nas sociedades avançadas. A diferença pendente está nos níveis de instrução e no incremento socioeconómico dos países. E, lamentavelmente, nas desigualdades patentes e latentes cá dentro, entre as regiões mais litorais (das grandes metrópoles) e as mais interiores, empurradas à força para a desertificação.
Todo este esquema e êxito de modernização depende muito não só dos quatro principais fatores (culturais, tecnológicos, políticos e económicos) e da ampliação do sistema de ensino – que conduz à escolarização de massas –, mas sobretudo da firme vontade governativa da Nação em esbater e erradicar, definitivamente, as lacunas regionais e todas as formas de exclusão. Há que corrigir, já, as desigualdades herdadas nessas regiões mais afetadas/carentes, suscitando-lhes uma mobilidade social ascendente.
Caso se continue a ignorar, de cima, a necessidade deste processo (r)estrutural, o insucesso e o abandono escolares serão reforçados nessas áreas territoriais desiguais e continuarão a reproduzir-se aí, de geração em geração…
Eis uma questão fundamental: será que Portugal está já ao nível desta vital transformação no Desenvolvimento Curricular e na Gestão Escolar?
Visto que, no Ensino e desde os anos 60 (séc. XX), o Estado tem estado na cauda dos países mais desenvolvidos. Apesar de melhorias nos últimos 20 anos. Contudo, perceba-se se esse significativo atraso de recuperação, em débito, é suficiente e veloz para nos equipararmos, quanto antes, aos padrões médios dos países de topo.
Pela emergente preocupação deste triângulo escolar, e da escolarização, o repto da mudança nunca deixa de ser tão urgente nem intemporal!