Num jogo do empurra próprio da escola básica, andam governantes e políticos da maioria num inacreditável passa-palavra em relação ao próximo orçamento de estado para 2019, embora faltem 4 meses. Nada têm de melhor para oferecer.

Este exercício de tacticismo absoluto e absurdo não visa defender as posições políticas de cada um dos partidos – PS/PCP/PEV/BE – que suportam este governo, mas apenas pretende marcar território, face às dificuldades económicas e financeiras que alguns já anunciam e principalmente para encontrar a melhor posição na grelha de partida apara as próximas eleições legislativas, daqui a pouco mais de um ano.

Entre o frenesim da ameaça e o espectro da chantagem, a esquerda anuncia o propósito de mudar o ciclo do apoio, num crescendo de pragmatismo básico e eloquente calculismo, contrariando os últimos três anos.

A envolvente política adensa-se com a crescente instabilidade social em que os partidos de esquerda vão tentar capitalizar com protestos, manifestações e reivindicações de vários (todos) os setores profissionais. Em cada greve, de imediato surge um coro de apoios à “justa luta” dos que reclamam e para que ninguém duvide, logo se apresentam na frente de batalha, prontos para serem vistos pelos parceiros de maioria.

O PS em prudente silêncio, levou António Costa a pôr água na fervura na espiral do crescimento da pré-discussão orçamental.

A alegria que se pressente neste início de combate entre as esquerdas, alinhando neste folclore de instabilidade, quase a fazer recordar combates de PREC, contrasta com a tristeza (ou vileza) do jogo tático, previsível desde 2015 e já demasiado visível na antevisão do próximo ciclo eleitoral. Espirito de responsabilidade de quem se veste de esquerda, a quem não foram – ainda – atribuídas, responsabilidades governativas.

Aliás, as consequências de um governo assim seriam assinaláveis. Numa sopa de pedra política, juntar anti-austeridade, anti-Euro e anti-NATO, quando se exige crescer a economia, seria um exercício de trilho em arame incandescente e na ponta da adaga.

Quando já temos um ministro da ciência que subscreve manifestos contra a sua própria política, num futuro governo teremos pré-avisos de greve em reuniões de conselho de ministros com governantes a assumirem funções de sindicalistas.

Os partidos de centro-direita – PSD e CDS – não podem nem devem contribuir para esta discussão de comadres. Não podem contribuir para uma discussão pouco racional e que não lhes diz respeito, para o qual não são bem-vindos e onde lhes resta apelar à responsabilidade.

Este último ano de legislatura não vai ser bonito, nem fácil. Neste alinhamento de esquerdas, apenas o ruído vai qualificar perante o ressurgir do protesto e o país a empatar. Entre hesitações e recuos, falta de decisões e cedências, se vai hipotecar o país mais uns anos.

Basta a conjuntura não evoluir para que um novo arranjo à esquerda nos arraste para níveis de despesa incomportável, bordejado por uma galopante divida pública, que condicionará os orçamentos da década seguinte, onde as políticas sociais apenas servirão para nos salvar da pobreza.