O novo aeroporto de Lisboa é um projeto altamente inflamável. Ainda não há contratos assinados, desconhece-se como será a terceira travessia do Tejo e até se haverá outra (quarta) solução mais exigente para desanuviar a ponte 25 de Abril – ainda assim, não há dia em que não surjam declarações explosivas que só provocam ruído.

Para os investidores privados, nacionais e internacionais, esta nuvem de fumo que sai do Ministério das Infraestruturas é uma perda de tempo e um desincentivo. Como terá de haver muito investimento para conseguir redesenhar o arco ribeirinho – toda a zona da margem sul do Tejo –, estes tiros de pólvora seca enfraquecem a confiança.

Naturalmente, a atenção está centrada no aeroporto Luís (Vaz) de Camões, que será financiado inteiramente pela ANA, e que é a peça a partir da qual nascerá esta mudança profunda. Governo e concessionária têm pela frente negociações exigentes e prolongadas que pedem sentido de responsabilidade.

Acontece que o populismo reinante provoca a ilusão de que é chave construir uma perceção capaz de exorcizar os piores receios de compadrio entre público e privado. Talvez por isso, Pinto Luz insista em declarações inflamadas que dão a ideia de que a ANA será contrariada até à exaustão – faça ou não sentido, seja ou não prematuro. Este constante fletir dos músculos ministeriais, numa altura em que as conversas estão numa fase incipiente, não serve os interesses do país, apenas parece que serve.

Os objetivos de Pinto Luz são ambiciosos e importantes: aeroporto, ponte, mais habitação. Tanta determinação contraria os ancestrais hábitos de inação pública. Mas a defesa do interesse público não é o mesmo que ranger os dentes – implica negociar bem e, no momento certo para cada circunstância, disponibilizar toda a documentação e dar todas as explicações necessárias.

O resto é só fumaça trumpiana.