Uma leitura serena do livro do empreendedor de Silicon Valley Martin Ford, “Robôs: A Ameaça de um Futuro sem Emprego”, que aborda a tecnologia e a sua influência no mercado de trabalho, levanta algumas das questões mais prementes dos tempos atuais: Quais são os empregos do futuro? Quantos haverá? Quem os vai obter? O livro traça um cenário inquietante para um futuro próximo, como consequência do “grande impacto da automatização em várias áreas profissionais, em especial no setor de serviços, incluindo aqueles grupos de pessoas com mais formação académica”.

De acordo com Fórum Económico Mundial, os avanços de robótica podem colocar cinco milhões de profissionais no desemprego até 2020. Todas as profissões sustentadas em tarefas rotineiras estão na linha da frente das mais ameaçadas, mesmo tratando-se de postos de trabalho mais especializados. A inteligência artificial (IA) passou a ter aplicações em áreas tão diversas quanto saúde, direito, jornalismo, entre muitas outras, substituindo postos de trabalho por robôs e software inteligente.

Um sinal de alerta poderia ter soado em 1997, quando o campeão de xadrez Kasparov foi derrotado por Deep Blue, um supercomputador da IBM. Todavia, apesar da aura “intelectual”, o xadrez é um jogo de regras fixas e sem margem para subjetividade, pelo que uma máquina, com a capacidade para delinear milhares de sequências diferentes de jogadas e comparar os respetivos desfechos, pode ter vantagem sobre um ser humano.

Outro sinal, referido por M. Ford: a IBM lançou a si mesma o repto de criar um computador capaz de derrotar humanos no seu “próprio terreno”. O resultado foi o Watson, um computador em que o modo como foi programado faz dele o computador mais sofisticado para análise de linguagem natural, sendo capaz de responder a perguntas, em linguagem corrente, sem moldes pré-fixados, sobre os mais variados assuntos, tendo conseguido superar o desempenho de dois antigos vencedores do concurso televisivo Jeopardy! em 2011 (mesmo sem estar ligado à Internet).

Há soluções de IA a serem utilizadas na realização de diagnósticos médicos, jornalismo, apoio jurídico e a situações de investigação criminal, entre outros. Apenas alguns exemplos.

O Watson atua presentemente em dezenas de hospitais nos EUA para oferecer melhores diagnósticos e os melhores tratamentos para diversos tipos de cancro. Um estudo da Future Humanity Institute (Universidade de Oxford) prevê que, em meados do século, as cirurgias sejam feitas por sistemas cognitivos, onde os computadores simularão os sentidos humanos. Está já em atividade o primeiro robô-advogado (ROSS), que constituiu uma evolução do Watson.

A escrita que “tem, no mínimo, tanto de arte como de ciência, poderia parecer uma das mais improváveis tarefas a automatizar já o foi e os algoritmos estão a ser rapidamente aperfeiçoados” (M. Ford). Vários meios de comunicação produzem já artigos padronizáveis em diferentes áreas como negócios ou desporto. Dentro de uma década, cerca de 90% das notícias poderão ser geradas por computadores.

Todos os empregos estão em transformação, com uma redefinição de funções e competências à luz do novo paradigma. O desafio é os profissionais encontrarem competências que continuem a ser fundamentais no atual contexto, complementando o que a máquina faz. O ser humano continua a apresentar vantagem em tudo o que esteja baseado na criatividade, na interação social ou na inteligência emocional.

O Fórum Económico Mundial identifica dez competências-chave nos profissionais do futuro: capacidade de resolução de problemas complexos, pensamento crítico, criatividade, gestão de pessoas, trabalho em equipa, inteligência emocional, capacidade de tomada de decisão, orientação para a ação, capacidade de negociação e flexibilidade cognitiva.

As instituições de ensino superior têm que estar à altura deste desafio e preparar as novas gerações nestas essenciais competências.