O mundo está a caminho de registar, pela primeira vez, desde 1948, uma dívida pública superior a 100% do PIB, ainda antes do final desta década. A previsão é do FMI que alerta para o perigo da escalada da dívida pública global, impulsionada por incertezas comerciais e políticas económicas. Tanto os países avançados, como os emergentes e em desenvolvimento, começaram a sentir dificuldades em financiar algumas das suas políticas.

Os custos de empréstimos estão agora muito mais altos do que no período pós-crise financeira de 2008-2009, e a pressão por maiores gastos (incluindo defesa) contribuem para esta situação. Por isso, não é de estranhar que a instituição de Bretton Woods erga bem alto a bandeira vermelha. A dívida global está numa trajetória insustentável e prestes a entrar na zona de risco, a crescer, mais cara, a que se soma a pressão para aumentar o investimento.

O FMI recomenda que os países endividados reduzam défices e criem reservas para lidar com futuros choques. Priorizar a política orçamental é essencial para apoiar a sustentabilidade da dívida e preparar almofadas financeiras para uso em caso de choques adversos severos, incluindo crises financeiras.

Só os países com maior espaço orçamental limitarão os danos ao emprego e à atividade económica durante uma crise. Uma pressão redobrada sobre os governos nacionais, sobretudo na zona euro, cuja dívida deverá situar-se em 87,8% este ano e em 92,2% em 2030. Basta ver que o disparo registado na última década superou o crescimento do PIB global e, em 2027, vence uma parte muito considerável do stock já existente.

A conclusão é inevitável: partindo de défices e dívidas muito altos, a persistência de despesas acima das receitas tributárias elevará a dívida a patamares cada vez maiores, ameaçando a estabilidade financeira e drenando a capacidade para fazer os investimentos necessários em prol do crescimento.

A média global de endividamento público disparou durante a pandemia e ainda não regressou aos níveis anteriores. Um cenário influenciado pela dívida dos EUA, que deverá aumentar o seu rácio de 125% para 143,4%, e da China, que deverá subir de 96,3% para 116,1%, em 2030. Os EUA estão, pois, prestes a registar a maior subida da dívida entre as grandes economias e a ultrapassar Itália (137%) e Grécia (130%) pela primeira vez neste século.

A dívida global está a aumentar mais depressa do que em qualquer outro momento da História moderna e, desta vez, não são apenas os países tradicionalmente mais gastadores a impulsioná-la. As finanças públicas das grandes potências tornaram-se um risco sistémico global. Mais. Os conflitos geopolíticos, que implicam um grande aumento das despesas de defesa, podem exacerbar uma nova crise da dívida internacional, que supera já um valor sem precedentes, superior a 100 biliões de dólares. O fardo da dívida nos países é alarmante, pois muitos gastam mais em pagamentos de juros do que em serviços essenciais como saúde e educação.

Há dois anos, numa conferência do JE, Álvaro Santos Pereira, então economista-chefe da OCDE, alertava para um “risco bastante elevado de termos um tsunami de crises de dívida”. Fica o alerta. A dívida está a afogar o mundo e pode enveredar por uma trajetória ainda mais insustentável do que as projeções oficiais sugerem. Se assim for, a crise mundial da dívida estourará em breve.